segunda-feira, 22 de junho de 2009

A VINGANÇA DE EVA. CAPÍTULO I


UM FOLHETIM EM TRÊS CAPÍTULOS.

Uma produção de ficção em três capítulos, para alimentar a curiosidade (sempre um pouco mórbida) de quem gosta de romances de sensação e se tornar as/os Emma Bovary do século XXI! Pura diversão pop sem qualquer misticismo!!!! Desaconselhada aos que confundem ficção e realidade!!!
O segundo capítulo só segunda que vem, se sua sede de narrativa sensacionalista estiver insaciável!!! Alimentem sua fome pelas histórias de alto conteúdo calórico!!!!




Meu nome é Eva.

Dizem que fui seduzida por uma serpente, que cai na tentação. Mas eu preciso contar como foi que as coisas aconteceram. Vocês precisam conhecer a versão da mulher insubmissa que encontrou a mulher insubmissa, renegada e ainda apagada e esquecida, aquela que não é mãe de ninguém, criadora somente de medos e espantos, a serpente maldita pelos homens. Com efeito: pelos homens. Vocês deveriam me agradecer por cair na tentação dessa maravilhosa criatura, que assim me tirou do inferno do Éden, onde reina soberano o tédio de infinitos dias tranqüilos e sempre iguais, prestando serviços sexuais gratuitos, mudas, caladas e obedientes, a homens sem umbigo e sem costela. E ainda por cima, não por prazer, mas para dar filhos a Deus.

No teu paraíso eu não queria mais ficar.

Eu não pertenço a ninguém, ninguém me tutela, ninguém manda, ninguém obedece. Você não me quer, não. Não quer essa idéia. Essa idéia seduz, ela é poderosa, ela é perigosa. Por isso você não me quer. Por minha vontade você perdeu teu Paraíso. Perdeu o lugar que pela palavra era o teu domínio. Porque eu tenho vontade e curiosidade. Porque eu não preciso de você.

Por isso você me quer. Para mostrar ao machos do boteco que sabe dominar e decidir por mim, me manter submissa e acorrentada. Você quer isso só de birra, porque te faz sentir poderoso e invencível. Todos os dias de minha vida, todas as noites de tua vida.

Quando você foi criado, ao mesmo tempo ela também foi, da mesma substância. Quem mais se aproximou de tua origem foi aquele grego, o tal que chamou vocês dois de andróginos: dois sexos na mesma matéria, divididos e destinados a sofrer se procurando. Pois é, você e ela, não você e eu, vocês com o mesmo poder o mesmo saber: argumentava e desobedecia, indócil e contraria. Assim você começou a vê-la. Ria, tagarelava e brigava com você. Você estava apaixonado. Não a amava, ainda. Há uma diferença substancial, entre paixão e amor. Na paixão, você olha para o objeto de seus desejos, algo desconhecido. Você inventa um retrato que corresponde a esses desejos, dos quais o objeto nada sabe. Um retrato estúpido de fantasias. O amor é o apagamento desse retrato, quando aos poucos aos traços de nossas ficções se substituem os traços da experiência. Isso pode doer um pouco, a gente pode decidir que o retrato que substitui nossos desejos é chato. Foi assim, com ela. Ela se divertia, rolando na grama com você, dois coelhos na primavera, e sabia o que queria, quando e quanto. Mas você, você ficou decepcionado. Às vezes, o que ela fazia não correspondia às tuas fantasias. Eu te conheço bem, sei quão narcisista e egoísta você consegue ser, especialmente em relação ao que você quer. Não gostava mais dela. As capacidades dela, em nada devendo às tuas, te cansavam. Ainda mais porque ela mostrava muita curiosidade. Você tinha que estar à altura de alguns desafios muito racionais, ver que nem sempre você estava certo sobre tudo. Saber que teu domínio não era total, que você tinha que se refrear quando ela falava. E aí, você cometeu a primeira infâmia: foi reclamar com o Pai, que tanto te amava, assim como a amava. Mas ela não foi reclamar, ela que também devia se refrear quando você falava, ela cujo domínio, como o teu, não podia ser total, pois ela também, como você, se deparava a cada instante com o limite do outro igual e diferente. Assim, você aproveitou do amor do Pai para se livrar do incômodo que ela se tornara.

De nada adianta inventar a desculpa que você era jovem e inexperiente. Só desculpa, mesmo. Você tem a consciência tão clara da baixaria que fez a ponto de tentar apaga-la e esconde-la. No futuro que passou, essa parte da história ficou de lado, sempre que aflorava alguém cuidou para que fosse, no mínimo, denegrida. Essas fábulas, quando se tornam mito, se tornam armas perigosas: quem controla o mito, controla a camada mais profunda da memória.

O resultado da tua bela ação foi que o Pai exilou tua irmã e amante. Você a xingou de demônio, e por querer teu mesmo logos criador, e não somente a cria de teu sêmen, você espalhou maldades sobre ela: que andava por aí cercando berços com seus incubi. Espantalho de crianças. É assim que você liquidou a Primeira, a Esquecida.

Depois, por um tempo, você achou que dar ordens aos leões para sentar, deitar e brincar de morto, e instruir os elefantes para andar sobre as patas dianteiras fosse o máximo da felicidade.

Porém. Porém. Porém.

Os anjos te visitavam com freqüência, sabiam que você andava se sentindo solitário. Porém. Porém. Porém.

Havia o problema deles não ter sexo. Isso acabava com a tua diversão. Tudo bem, por um tempo você aproveitou essa companhia. Eles te explicavam a ordem perfeita do universo, levando você aos rudimentos da matemática, da física, da geometria, da astronomia. Enfim, gravavam em você as essências. Sempre aquele grego, depois, contando uma boa versão dessa história, chamou as essências de idéias. Eram muito bons de papo, e isso permitiu que você adquirisse habilidade retórica e dialética – e ainda bem que eles te deram a gramática, pois você falava errando tempos e concordâncias! - pois eles debatiam entre si de maneira sublime. Ainda, a trilha sonora era agradável mesmo que, às vezes, você se entediasse profundamente com o som das harpas e das trombetas, das trombetas e das harpas. E os coros? Aqueles Aleluias intermináveis! Depois de um tempo, que aborrecimento, dava pra perceber que um bom rock estava a milênios de distância de acontecer!.......(TO BE CONTINUED)

2 comentários:

  1. Querida Fada,
    Estou adorando o seu folhetim!
    Pela primeira vez, vejo a história de
    Eva contada pelo ponto de vista dela!
    Afinal, por muito tempo, foram os homens
    quem se apoderaram da escrita para contar
    a sua visão de mundo e o modo como eles
    enxergavam as mulheres.
    Eva ter gostado de sair do Éden prova o quanto ela tinha vontades próprias e foi silenciada! Concordo com ela! Pra quê ficar em um local onde era submissa, servia apenas para a diversão e reprodução do homem?
    Porém, quando Eva representou um "perigo" para
    esse homem, este reclamou a Deus! O resultado
    foi o exílio de Eva, a primeira.
    Acho que tenho idéias sobre quem seja a segunda. Mas, prefiro não arriscar, rsrs...esperarei
    ansiosamente pelo capítulo 2!
    Ótimo entretenimento esse! Faz bem ouvir essa história por um outro ponto de vista, em favor das mulheres!

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  2. Querida Larissakabochi:
    e estamos só no começo!!!!!! A Fada agradece sua presença.
    abs!

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