quinta-feira, 15 de outubro de 2009

PARADOXOS & ABSURDOS DAS LEIS DA BÍBLIA...


Sei que discutir de assuntos religiosos é um tema bem delicado, mas ando muito confusa, com as pessoas que fazem declarações sobre o que é "moralmente" certo ou errado, com base em uma seleção de trechos bíblicos que, cada dia mais, me parece aleatório.
Explico: condenações contra as minorias homossexuais, por exemplo, são frequentemente fundamentadas no LEVÍTICO, 18:22, que afirma que relações dessa natureza são abomináveis. Daí, vamos justificar discriminações, violências & tudo que é necessário para erradicar esse "mal", vamos internar em clínicas pseudo-psiquiátricas quem sofre desse "mal", vamos impedir que essas pessoas tenham cidadania plena no mundo...
O que não entendo, todavia, é de que maneira se deve agir em relação a outros trechos bíblicos relativos a LEIS & NORMAS que estão no mesmo lugar, a Bíblia, e que todo mundo rejeita como absurdas, ninguém sonha mais em aceitar.
Quero entender: com base no que algumas coisas são aceitas e confiáveis na Bíblia e outras não? Ou tudo ou nada, minha gente, e com base nisso, vou, aqui, expor minhas dúvidas sobre condutas & leis específicas que um bom crente deveria seguir. Aceito conselhos e sugestões sobre como aplica-las. Por favor, me ajudem:

1) Se alguém tem uma filha e quisesse vende-la como escrava, como se encontra em Êxodo, 21:7, onde se encontra o melhor valor de mercado?
2) Quando queimo no altar do sacrifício um touro, sei, pelo Levítico (1;9) que isso produz um cheiro que agrada as narinas do Senhor. O problema, porém, surge com os vizinhos, os quais reclamam que, para as narinas deles, o cheiro é desagradável. O que devo fazer? Espancar esses infiéis?
3) Lê-se, em Levítico 15: 19-24, que só se deve manter relações sexuais com uma mulher não menstruada. Como devem agir os homens, considerando que não é uma pergunta que a maioria das mulheres gosta de responder pois, em geral, é um pouco ofensiva?
4) Sempre Levítico, 25:44, afirma que tenho direito de possuir escravos, tanto mulheres como homens, desde que adquiridos em terras estrangeiras. Considerando minha posição de estrangeira por aqui, estou cheia de dúvidas em relação às minhas opções: posso comprar escravos argentinos, ou os acordos do Mercosul inviabilizam essa opção? Teoricamente, poderia adquirir escravos alemães, mas isso não seria condizente com minhas origens européias, pois na União Européia (da qual sou cidadã) eles não seriam mais exatamente de uma terra estrangeira. Alguém poderia me ajudar com esse dilema?
5) Tem gente que insiste em trabalhar aos sábados. Ora pois, sabemos muito bem que isso é pra lá de proibido, a ponto que em Éxodo, 35:2 se diz, claramente, que quem faz isso deve ser punido com a morte. Pergunto: estou moralmente obrigada a matar esses trabalhadores pessoalmente, ou posso delegar essa tarefa (sei lá, aos meus escravos de não sei onde?). Posso realizar a tarefa aos sábados ou, enquanto LEI, devo considerar a tarefa como trabalho e esperar aos domingos?
6) Um conhecido meu tem a sensação de que se, de um lado, comer lagostas, camarões e outros frutos do mar é um ato abominável (Levítico, 11:10), por outro lado é MENOS abominável do que as práticas homossexuais. Discordo, e acredito que os vendedores de caranguejos da paraíba deveriam ser punidos com grande rigor. Alguém pode me iluminar sobre como fazer?
7) LAST, but not LEAST, em Levítico, 21:20, proibi-se aos que têm defeitos da visão de se aproximar do altar de Deus. Considerando que fui míope por muitos anos, e que o defeito foi corrigido cirurgicamente (não, portanto, MANU DEI), como devo me comportar, para não infringir essa lei?

Então, gente, qual é o critério para aceitar as palavras bíblicas, o que nos convém? Aquilo que OUTROS decidem sem maiores explicações como CERTO e ERRADO?
Vamos parar com toda essa hipocrisia?
A FdP hoje, resolveu mesmo ser chata, viu?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

FOLHETIM: JOGOS INSENSATOS (cap.3)


E começa um jogo que B não sabe se e quanto sabe jogar, é como pisar em areias movediças e é notório que areias movediças não são gelatina colorida para crianças.

B senta na frente de A, sobre um banquinho baixo, as pernas abertas, e começa a provocá-la, perguntando o que ela quer.

Errado.

Não é assim que A quer que B jogue. Então, A intima B para tirar a roupa. Não a toca. Sentada, só a olha. B está nua na frente de A, nua e crua como a verdade, sem disfarce algum, e quer baixar seus olhos. Mas já não é tempo para pudores, falsos ou verdadeiros que sejam. Escolher brincadeiras assim impõe uma manutenção pouco comum das emoções. Será B uma trepidante donzela desamparada? Não, jamais! B resolve bancar a mulher vivida e sem vergonha. A olha para B, em silêncio, bebendo mais um pouco de vinho, depois a leva para o quarto. Explicando que agora vai amarra-la. Vai amarra-la e tampar sua boca. B vai ficar em seu poder. Não conseguirá se soltar, não conseguirá falar. Enfim, tudo bem, já que estão nesse ponto, continuam em frente, certo? B confessa a si mesma que não, não se sente particularmente excitada, está mais é curiosa. Em silêncio, A pesca de alguma gaveta um emaranhado de cordas. Aos olhos de B, parecem quilômetros de cordas. Muitas cordas mesmo. B começa a pensar que vai ficar que nem um roast-beef inglês, com todas essas cordas. Claro, pensa B, e depois vai me temperar e por no forno. B já não consegue mais levar o evento muito a sério. Sua bagagem literária refreia uma risada. Na verdade, B não sabe muito bem até que ponto A se dedique realmente a essa estranhas práticas ditas sadomasô. B considera que não deve ser muito experiente. A tal de experiência literária avisa B que se encontra no meio de uma brincadeira decadente, e não em um romance erótico do século XVIII. Enquanto isso, A já a prendeu, e B não consegue se mexer. Nem falar. Nem se desamarrar. A levanta, diz que está com sede, e deixa B deitada, sozinha debaixo de uma luz bem pouco aconchegante. Volta e começa a acaricia-la. B se sente estúpida. Por traz de tanta cenografia, olha o que encontrou: um sexo baunilha da pior espécie! B fica parada, nem saberia como reagir, ainda bem que está amordaçada, assim a risada não pode sair, ainda que tudo isso não passe de uma grande bobagem, não há razão para ofender A em seus gostos e preferências. Que, definitivamente, não são os de B.

Sexo baunilha com uma mulher amarrada desse jeito, fala sério! Vai ver algo transparece do olhar de B, de sua postura. Não demora muito, A também desiste. Começa a desamarrar B, os olhos baixos, um incômodo evidente nas palavras que saem de sua boca, meio atropeladas. Escuta, diz A, acho que não vai dar certo. Acho, diz, que é melhor deixar pra lá, você é uma mulher inteligente, e é melhor ficar por isso mesmo. B levanta, se veste e, em cinco minutos, já está do outro lado da porta, rumo ao carro dela.

Enquanto dirige, aliviada, para casa, B pensa na ingenuidade desse mundo, na ingenuidade de A, na curiosidade mais que satisfeita.

Pensa naquela tatuagem com o nome de C, marcando para sempre aquele braço e começa a rir, a rir, sozinha, noite adentro.

THE END!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

FOLHETIM: JOGOS INSENSATOS (cap.2)


Meia hora depois estão no lugar de A, um apartamento aconchegante. B, sentada no carpete, sinal de disponibilidade e submissão: está mais embaixo. A se senta no sofá, descalça.

A, safada, saca espelhinho, cartão de crédito, enrola uma nota de dez e mostra que tem nariz poderoso com o tempero. O aplomb de B é total, enquanto aguarda sua vez. O papo flui legal, livros, filmes, tudo que permite driblar os pedregulhos das intimidades, desagradáveis percalços no caminho da diversão.

Duas taças de vinho depois, doze litros de água depois, destemperando os resultados das atividades das membranas olfativas na fumaça downer de um matinho fragrante e perfumado, A encara B de frente.

Diz, faz tempo que quero te perguntar: topa um sexo sadomasô comigo? Sabe, penso nisso quando estou com C e quando estou sozinha, e estou cansada de pensar. Quero saber como seria com alguém como você

B consegue manter o rosto imperturbável. Como se todos os dias enfrentasse situações do gênero. Sim, claro, pensa B, levanto toda manhã, sabendo que vou encontrar meninas que vão me perguntar: hei, você, topa um sexo sadomasô?

Hã.

Claro. E o que, exatamente, significa: “alguém como você”? Como assim, como ela?

Claro o cacete, há muito nem sequer B recebe propostas de beijo na boca, que sexo sadomasô que nada! Quero dizer: não é a proposta que provoca um bloqueio à altura do diafragma, que se não tomar cuidado, B engasga e cai, fulminada, mas disfarça com o mesmo aplomb acima citado.

Até parece, que B é ingênua, quando vê uma moça cheia de piercings e tatuagens. O problema do susto é, com efeito, a tatuagem com o nome de C no braço. Por que cargas de água, se pergunta B, alguém que tatua o nome da namorada no braço vem me fazer uma proposta dessa?

Melhor não perguntar, evitando, assim, o risco de respostas indesejadas.

B sorri um sorriso de serial killer e enfia a cara na taça de vinho, ganhando tempo.

Oh, dúvida cruel! Topar e poder ficar com A, essa mulher maravilhosa em uma situação escabrosa, ou se negar e ficar só com água na boca? A carne é fraca, bem se sabe, e é fundamentalmente verdadeira aquela frase da sábia amiga D, que diz que “puxa mais um pentelho do que uma parelha de bois”.

B muda para um sorriso que espera sedutor, e fala com sua melhor voz roca que: sim, claro que topa.

sábado, 3 de outubro de 2009

FOLHETIM: JOGOS INSENSATOS (cap.1)

INTRODUÇÃO:

A ficção, mais uma vez, me espanta & me encanta.

Escrevi mais um conto, e testei se funcionava, literariamente falando, propondo sua leitura a várias pessoas amigas.

Mais uma vez, a FdP recebeu perguntas desnecessárias (já que avisei tratar-se de um conto, de ficção pura e simples, de invenção, de produto de fantasia) sobre o quanto constava de verdadeiro nele.

Resultado: estou preocupada com o que será de minha reputação “publicando” essa INVENÇÃO no Blog.

Por outro lado, porém, declaro-me muito satisfeita em perceber o poder de VERACIDADE de meus impulsos literários: com efeito, a curiosidade um pouco “perversa” das perguntas recebidas me faz pensar que não está mal escrito, se todos os leitores, até agora, ficaram na dúvida sobre alguém realmente ter vivido essa historinha...

Gente, é sério, nada de pensar que um conto, que nem chega a ser erótico, seja mais verdadeiro do que, sei lá, “O senhor dos anéis”, em que todos os machos se matam para botar um dedo no anel (no filme todos têm mãos sujas e unhas quebradas... Nojentinhos...), somente porque ambientado em lugares que poderiam ser nossas casas ou porque algumas situações são plausíveis...

FUI CLARA? Fiction is fiction, e não aceito censuras, pois

QUANDO EU CRESCER, SEREI UMA ESCRITORA CAPAZ DE VIVER DE SUA ESCRITA!

CONFESSO: Um pouco fiquei brava, com essa “abordagem” de leitores querendo saber quem é quem e quem fez o que... se esse conto estivesse em um livro com escrito na capa “contos” ninguém ficaria me atazanando...

JOGOS INSENSATOS (cap. 1)

Eu gosto, disse A, de torta quente de maçã com sorvete.

Eu não, respondeu B. Gosto deles separados: torta de maçã de um lado, e sundae do outro.

Por que separados? Pergunta A.

Para que desenvolvam ao máximo suas potencialidades antes de se juntarem em mim, responde B.

A ama C. B se finge solidária, bancando a cruel. Mesmo porque parece tudo uma grande brincadeirinha. B faz santinhos, rezando pelas palavras abandonadas e os livros abandonados. Reza para que C não caiba no dia nem na noite de A.

B está entre a Maga Patológica e Cassandra, a Infausta, enquanto dispensa conselhos sentimentais baratos e oferece seu ombro desnudo para as lagrimas de crocodilo que despontam nos olhos de A. Finge ficar fora do caminho, com a evidente má vontade de quem não tem a menor intenção de ficar de fora do caminho. De regra, B não gosta de mexer com quem se apresenta “em forma de casal”. Mas A está dando um mole danado para B, e B está em abstinência há um tempão. Não é que, pelo fato de trabalhar com as palavras, arranjando-as para ganhar seu pão, a carne de B tenha sumido. As palavras são, para B, tudo. O que seria de B, sem palavras? O alfabeto é uma máquina com menos de trinta sons que, combinados, compreendem o universo inteiro e determinam sua existência.

Se B pudesse esbanjar tempo e riqueza...

Provavelmente seria um macho alfa.

Porém, B não tem riqueza. Porém, B não perde seu tempo.

B é uma mulher pragmática, mas ainda vive sua vida como se o que faz pudesse sobreviver ao dia em que foi feito. Bobagem. “Esse pensamento se auto destruirá em trinta segundos”.

B faz pelo menos três coisas ao mesmo tempo: olha para A; levanta seu copo de cerveja; considera como sua vida ande se esgarçando, tornando visíveis trama e urdido.

B se sente síntese, santa encenação das indesejadas felizes de sê-los. Das que brincam sozinhas e acompanhadas, mas sempre brincam com seriedade e afinco.

B gostaria de organizar uma procissão com velas, cantos e musicas desafinadas e incompletas. B está sujeita a ser excomungada, processada, castigada. Sabe que deve se policiar, pois está com vontade de gargalhar em voz alta, sentar de pernas abertas em público e comer, falando alto e xingando sem vergonha, invocando as piores divindades com oferendas de álcool, drogas e diversão.

Eis a pergunta que se cala, quando, subindo do plexo solar esbarra no paladar de B: Por que você, A, está aqui, sentada comigo, falando da outra que te traiu?

Escuta, diz A, está a fim de temperar a noite?

Por que não, responde B, gosto de temperos e especiarias.

Então, vamos para a minha casa, propõe A. Tenho temperos gostosos.

Que tal pararmos para comprar um vinho? Sugere B.

(To be continued...)