segunda-feira, 8 de junho de 2009

ANHANGUERA MON AMOUR: DELÍRIO CRIMINOSO.


Era uma vez...

Uma senhora idosa, interessada em ervas, tarô e medicinas alternativas que, depois de uma longa vida de trabalho honesto, construiu um casinha como sempre desejou. O sonho de uma aposentada gulosa, uma casinha feita de chocolate e chantilly, construída graças a uma certa riqueza, fruto do trabalho de uma vida. Uma vida honesta, um trabalho honesto e, finalmente, a casinha dos sonhos, já adentrando o Mar da Cana, logo às margens do Riacho Negro que corre saltitando e cantando.

Esta casinha despertou a cobiça e as más índoles de dois irmãos pré-adolescentes, criancinhas cujos pais resolveram abandonar na rua, os imigrantes alemãos Hansel João e Gretel Maria, naturalizados brasileiros.

Voltando à velhina. Trata-se de senhora idosa, com um passado: as fofocas dizem que freqüentava círculos exclusivamente femininos, especialmente aos sábados, que o visual inusitado mereceu-lhe o apelido de bruxa, por parte da comunidade masculina da cidadezinha onde a vítima, os algozes e a família deles residiam, às margens da Floresta da Cana, às margens do Riacho Negro. Possuía uma renda suficiente para garantir um certo estilo, várias mordomias e privilégios, além da propriedade de uma casa evidentemente atraente para os então jovens infratores Hansel João e Gretel Maria.

Os dois elementos criminosos revelaram suas más intenções desde que começaram a cobiçar a propriedade da velha. O primeiro ato doloso dos dois, com efeito, foi de vandalismo contra o imóvel: comeram parte das janelas e do portão de chocolate. Surpresos em flagrante delito pela proprietária, alegaram ter aproveitado das partes da construção movidos pela extrema indigência em que se encontravam. Em um segundo momento, aproveitando de uma brecha na negociação com a idosa senhora para concertar os danos, os dois se ofereceram para realizar serviços de faxina e manutenção dentro da casa, como forma de ressarcimento.

Sabemos da história somente a versão dos dois criminosos, mas a verdade é bem outra, e se revela com clareza, através da aplicação de um processo criativo baseado no método histórico e na observação da paisagem humana e natural em volta da residência no Mar de Cana às margem do bendito Riacho Negro.

Os restos da velha, encontrados carbonizados na churrasqueira do quintal, testemunham da violência com a qual os dois agressores se voltaram contra ela. A jovem Gretel Maria, sozinha, jamais poderia levar a cabo o crime, precisando da ajuda do irmão. Depois do assassinato, os dois concordaram uma versão dos fatos mentirosa e baseada em preconceitos aceitos na comunidade: acusaram a velhinha de pedofilia sadomasoquista: o jovem Hansel João alega ter sido mantido em uma gaiola, de onde a velha todos os dias verificava se o “dedinho” (termo infantil para designar o órgão sexual do moleque) ficava “gorducho”. Enquanto isso, também foi acusada, na versão dos dois, de explorar o trabalho infantil, pois Gretel Maria era obrigada a desempenhar as tarefas domesticas.

Por razões ligadas à visão patriarcal, que desconsidera o trabalho domestico um verdadeiro trabalho, esta acusação foi desconsiderada nos atos do processo...

Todavia: o preconceito está presente ao longo da versão oficial inteira. A senhora vivia isolada, sem apreciar particularmente as expressões do convívio humano, o que lhe rendeu má fama. Nunca agiu como “vovozinha”, pois ao que parece não teve filhos, por opção, mas somente gatos. Aliás, o grande numero de livros em sua residência revelam interesses outros, de natureza intelectual.

Os dois criminosos infanto-juvenis aproveitaram da escassa simpatia do povoado por ela, penetrando sorrateiramente na propriedade dela e matando-a. A verdade é simples, nua e crua. Para evitar suspeitas, os dois alegaram ter sido seqüestrados e obrigados a viverem em condições de semi-escravidão. Alegaram ter sido sexualmente abusados e que a morte da senhora teria sido, portanto, legitima defesa. Mas algo mostra que não foi assim. A velha podia não ser muito simpática, mas foi atacada duas vezes: sua casa foi vandalizada e, pior, ela foi brutalmente assassinada. Que a impunidade dos dois seja efetiva, se deve exatamente ao preconceito contra mulheres solteiras, não mais jovens e capazes de se virar sem homem para concertar o chuveiro ou plantar um prego na parede. Ainda, as pesadas insinuações sobre o fato da senhora abusar de menores, realmente não se sustentam: repito: trata-se de vitima de preconceito, pois gostava de mulheres, portanto não teria demonstrado qualquer interesse para dedinho algum do elemento. Simplesmente, não se encaixava nos papeis tradicionais de vovozinha.

Toda esta história não passa de um fato de crônica local sobre um assassinato brutal, em busca de dinheiro fácil, realizado magistralmente pelos dois, muito provavelmente sob a direção dos pais. Idéias antiquadas sobre a inocência das crianças e sobre senhoras que moram sozinhas tornaram a vítima dessa história uma bruxa malvada que atraiu, seduziu e devorou crianças inocentes. Isto diz muito sobre preconceitos ainda hoje...

Um comentário:

  1. A delinquência e impunidade grassam na região. Notório é o caso da jovem conhecida por trajar-se em tons rubros, que atua como "avião" na distribuição de "docinhos" para viciadas idosas que, associada a caçador ilegal, praticou crime ambiental ao matar pobre espécime da fauna nativa. Ou a situação dos pobres trabalhadores de pequena estatura explorados pelo capitalismo selvagem que vivem em situação promíscua com jovem expulsa de casa por conta de conflitos sexuais com a madrasta. Sem falar, é claro, na perversão com toques necrófilos da garota que aguarda imóvel que algum homem apareça para "despertá-la" ... sinais inquietantes da falta de ética e da decadência moral que nos assola.

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