quinta-feira, 4 de junho de 2009

BELLES DAMES SANS MERCI I.


Depois de ler o romance e assistir ao filme há muitos anos atrás, Jane Eyre ficou em uma pasta mental na cabeça, referência freqüente, pouco mais do que isso. Mas há não muito tempo atrás, zapeando noite adentro entre os canais pagos, em busca de South Park ou de alguma outra genial estupidez qualquer, aconteceu de assistir novamente ao filme em p&b com o grande Orson Wells no papel de Rochester e una Elisabeth Taylor criança/Bambi, de olhos disneyanos no papel da tuberculosa. E aí anotei umas coisas em minha caderneta, coisas que nunca se tornarão úteis na produção acadêmica, já que não tem lugar para elas na “área”. Porém, com sou uma pessoa que precisa extravasar extravagâncias, resolvi colocar na tela minhas anotações, quem sabe alguém tem alguma idéia do uso que posso fazer delas...

Jane Eyre é a pobre órfã modelo Dickens, que a tia cruel trata que nem a madrasta de Cinderela. Nessa parte da história, no romance tem aquela cena aterrorizante do quarto vermelho, onde Jane alucina, encontrando todo o catalogo de nossos medos infantis. Mas aí, a tia malvada a envia para um orfanato/reformatório, para “moças rebeldes”. Aqui as meninas são humilhadas pelo diretor e pelo corpo docente. Mas Jane não tem alma de ovelhinha não, portanto é ainda mais maltratada. Aí cresce, e se percebe que ela adota a postura desejada simplesmente como disfarce. No colégio, o diretor é cruel. Jane se submete para aprender um ofício e, assim que alcança a maioridade, publica um anuncio buscando um emprego como governanta: rejeita ser submissa às vontades do velho diretor sádico e sai para o mundo.

O mundo é um lugar perigoso para as moças jovens. No filme, Jane encara sem ceder o assédio na pousada onde a carruagem a deixa no caminho para a mansão dos Rochester, Thornfield, onde será governanta de Adele.

Chega em Thornfield, o ambiente é sombrio. Adele é uma criança/boneca, que já sabe seduzir. É destinada a se tornar uma Blanche Ingraham, que é uma jovem de fino trato, “de berço”, mas arruinada, atrás de um casamento com Rochester que, porém, a dispensa.

Jane se depara com o patrão pela primeira vez durante o famoso passeio no nevoeiro, quando o cavalo se assusta com ela. Ela é obediente, quando Rochester manda lhe entregar o chicote. Depois se enfrentam, e ela responde a todas as perguntas de maneira direta e franca. Não tenta seduzir nem baixa a cabeça.

Descobre-se que Rochester é casado com uma louca, que se dava a todos os prazeres e paga as conseqüências (sífilis? Será por isso que ela enlouqueceu? Por pudor só se alude...). Rochester a mantêm presa em uma torre da mansão, sob os cuidados de Grace Poole, a guardiã que a domina com a força bruta.

Há vários acontecimentos: o irmão da louca chega de surpresa e acaba ferido pela irmã. Rochester pede confiança a Jane sobre o segredo que não pode confiar-lhe. Se colocam em um plano de paridade, pois ela entra no jogo. Mas é, na verdade, um jogo de submissão constante: ele a força a permanecer na sala da festa, onde os amigos dele (e Blanche) falam mal de governantas como se Jane não estivesse presente. Ela sai e Rochester brinca com ela como um gato com um ratinho. O pior: mais ele faz isso, mais Jane se apaixona.

Um jogo é legal somente se ambos os jogadores estiverem jogando limpo. Rochester engana Jane, pois ela não sabe que ele é casado. Jane considera isso traição e vai embora. Sem referencias, não consegue emprego, dorme na rua, e acaba voltando para a casa da tia cruel, que no entanto perdeu o filho devasso e teve um derrame. Jane fica para cuidar, a velha é obrigada a submeter-se à moça, que parece uma Vingança Silenciosa: Jane impõe sua presença sobre a fraqueza da tia, ganhando assim um teto. Enfrenta dificuldades econômicas e, no entanto, Rochester a procura.

Jane vai ao seu encontro e descobre que ele ficou viúvo e, melhor ainda, precisa de alguém que cuide dele, pois ficou cego.

Jane domina. Xeque mate.

Nenhum comentário:

Postar um comentário