terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

APELO: SALVEM AS GALINHAS DOS MACHOS...

Então, estou abalada.
Sabia que macho vive meio que preocupado somente em colocar sua apêndice da mesma maneira que avestruz põe a cabeça debaixo do chão, mas o que me contaram me deixa profundamente abalada, enojada e, francamente, indignada.
Nos Macondos da vida, aqueles povoados que a gente acha que existem somente na literatura sulamericana dita "realismo mágico", MAS QUE EXISTEM, porque coisas assim só podem acontecer em um mundo sem sentido, os machos utilizam as galinhas para obter "favores sexuais".
Vocês podem achar que estou brincando, mas não estou não.
Existe uma mobilização global de proteção aos animais, justo hoje no meu face tinha um apelo contra a pornografia que envolve animais...
Mas as agências que se preocupam com os bichos parecem concentrar o foco unicamente nos mamíferos... e esquecem das galinhas.
E as coitadas precisam ser protegidas também. E os estupradores devem ser punidos, pois é pura e simplesmente uma crueldade, pois pensem nas devidas proporções. As galinhas não sobrevivem aos estupros. Não vou entrar nos detalhes porque é nojento demais, mas peço que as muitas pessoas que se enternecem perante as fotos de gatinhos, cachorrinhos e ovelhinas se mobilizem também em prol da proteção das galinhas.
Nem que seja graças às imagens horrorosas dessas aves indefesas que, depois do estupro, morrem porque suas entranhas ficam todas para fora... e espero que seja começada uma campanha de proteção das galinhas, com base na idéia bastante nojenta dos restos de uma vítima assada em nosso prato...
REALMENTE, NÃO ESTOU BRINCANDO, ALGUÉM TEM QUE PENSAR NA INTEGRIDADE FÍSICA DAS GALINHAS E, PRINCIPALMENTE, NA SAÚDE MENTAL DESSES MACHOS ESTUPRADORES!!!!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

ARTE (SEM) MUSEU


Fernando de Noronha se visita quase unicamente pela magnificência de suas paisagens. É um lugar bem particular, pois em sua história foi descoberto no comecinho do século XVI e ninguém vivia aí por não ter fontes de água potável. O tal de Fernão de Loronha, a quem a ilha fora doada pelo descobridor, Américo Vespúcio, por não encontrar na ilha metais preciosos nem pau brasil, não se interessou pela ilha deserta, mais próxima da África que de São Paulo. Os holandeses, que ocuparam o nordeste, também colocaram um posto avançado na Ilha mas, como perderam contra os portugueses, tiveram que abandonar tudo. Aí os portuguêses, finalmente, demostraram interesse pelo lugar, que hospedou um sistema de pequenos fortes e, finalmente, se tornou colônia penal. E nunca mais deixou de se-lo.
Com o tempo, a colônia penal foi desativada, mas os descendentes dos criminosos que nela estavam constituem uma boa parte dos residentes atuais. Além deles, se encontram os que têm ou tinham envolvimento com a marinha brasileira, que manteve a ilha protegida por muito tempo.
Mas as coisas mudam, a economia preme e Fernando de Noronha se tornou um paraíso da indústria do turismo de massa. Amei.
Amei porque é realmente um lugar espetacular.
Amei porque amo tudo que é ilha.
amei porque vi os golfinhos.
Amei porque mergulhando vi tartarugas tubarões e um monte de peixes coloridos.
Amei porque continua uma colônia penal.
Extremamente agradável, mas ainda assim uma colônia penal. Em que os turistas devem se submeter a verdadeiros trabalhos forcados. A questão é simples: você fica 5 ou 7 dias, durante os quais você acaba querendo aproveitar todos os passeios, mergulhos, acessos que as agências oferecem. Não tem como evitar.
Em Fernando de Noronha você se dedica aos trabalhos forçados e se diverte.
Mas eu sou uma FdP e não me contento em diversão. tanto é que participei do passeio histórico, podendo visitar os monumentos da ilha. Que são belíssimos enquanto apelam para nosso desejo romântico de sublime na paisagem: ruinas e rochas enormes batidas pelas ondas do oceano azul... típico daquelas representações artísticas de um século XIX que ama a Natureza imperiosa que tudo, com sua força, devora... Sentimentos evidentemente compartilhado pelo meu grupo de visitantes que aproveitaram para tirar um monte de foto. Isso é patrimônio histórico. Tem chancela. É protegido. É um ato didaticamente correto que merece ser feito.
É, também, um ponto importante de visita o Projeto Tamar da ilha. As tartarugas desovam na ilha e, como estamos em um santuário ecológico, elas se beneficiam do SUS marinho.
No Projeto Tamar tem uma loja. Mas isso não é o ponto. Tem um pequeno percurso "didático" sobre as tartarugas, dividido em dois momentos. O primeiro, debaixo de uma marquise, oferece aos turista alguns exemplo de esqueletos de tartarugas, mostrando como a presença do homem as coloca em perigo de extinção. Tem um pequeno diorama (diorama: tão antigo e tão eficaz!!!), com um monte de filhotes de tartaruga em vidro-resina que corre, inelutavelmente... para a parede pintada com um monte di filhotes que correm contra a pintura do mar. Não parece o melhor, correr para uma parede, para garantir a continuidade da espécie. Na parte externa, em volta dos prédios, se encontra uma verdadeira exposição em vidro-resina da fauna marinha da ilha. "Empalados" em suportes de metal de mais ou menos 5o/70 centímetros de altura ( o sistema lembra das antigas coleções de borboletas, com os bichinhos fixados contra o papel com agulhas) encontramos golfinhos, tartarugas, barracudas, moreias, mais tartarugas, tubarões, mais tartarugas...
Fascinada, descobri que TODAS as peças são assinadas. Pelo artista. Porque, justamente, uma instituição que quer divulgar o que faz, como o Projeto Tamar, procura meios para se comunicar, e essas "esculturas", oficialmente encomendadas, carregam o nome do artista, oficialmente encomendado.
Fascinada, descobri que no lugar se encontra um orelhão. Em forma de tartaruga. Com a assinatura do artista. O mesmo da exposição didático científica com interpretacão artística em volta...
Em Fernando de Noronha tem museu. Aliás, dois. Um, fechado. Ligado ao espaço cultural da ilha, que está fechado. Ninguém sabe se um dia, ainda vai abrir.
O outro, é o "Museu dos Tubarões". O nome diz tudo. Mas não se trata de um museu museu museu. Não exatamente. É um conjunto perfeito de síntese das necessidades do turismo de massa: lazer, entretenimento, comida, bebida, mercadorias (lembrancinhas da ilha) e um toque de ciência. As paredes são decoradas com as bocarras ossudas dos tubarões. grandes pôsteres explicam a cadeia alimentar marinha, do planctom ao tubarão.
Nesse espaço se ministram também mini palestras sobre a formação das ilhas, o clima, o movimento das ondas... A parte que mais surpreende, porém, é o lado aberto do museu. Aqui, tem um grande espaço batido pelo vento, que acaba onde as rochas caem no mar. É uma área disposta e organizada para passiar entre gigantescas esculturas em aço, silhuetas simpáticas de peixes, monstros marinhos dentuços, rabos de sereias. São obras simpáticas e interativas: você pode sentar no trono de Netuno, botar a cabeça na boca de um tubarão... E ainda, estranhas tenazes gigantescas de lagosta abrem seu caminho surgindo do chão.
Nesse caso, o negócio não é institucional, ou seja, o Projeto Tamar que contrata um artista. Nesse caso, é o dono do negócio que faz seu pedido.
Óbvio que, até aqui, tudo é feito para uma compreensão do turista, para seu agrado, e é feito habilidosamente (talvez, sejamos sinceros, seja mais agradável do ponto de vista "sensível" o conjunto de aço, do que a fauna marinha em moldes "científicos", os animais de aço são fantásticos e ativam nossa imaginação. São um fato, digamos assim, mais "artístico" do que o primeiro.
Mas Fernando de Noronha, quando se foge da espessa rede dos maravilhosos trabalhos forcados do turismo de massa, oferece também um exemplo de ARTE CONTEMPORÂNEA, daquela difícil que, em uma galeria de arte ou em um museu nos deixa com a cara perplexa, cutucando o queixo, na esperança de entender "do que se trata".
Só que essa ARTE CONTEMPORÂNEA não está em um museu. Ocupa um canteiro, uma pracinha, que dá acesso a uma pousada, cujo nome domina o conjunto artístico.
O conjunto se encontra em um ponto onde, querendo ou não, todo turista acaba passando inúmeras vezes.
Em um primeiro momento, não entendi do que se tratava. Mas é isso que acontece sempre na frente de uma obra de ARTE CONTEMPORÂNEA. Na segunda passagem, continuei sem entender o que eram aqueles aglomerados de "coisas", objetos que encontrariam muito bem seu lugar no lixo. Pedaços de madeira, lataria de bugre, pneus, cordas, metais enferrujados...
Moral da história: decidi gastar um tempo passeando pelo canteiro e.... ENTENDI!
É uma obra de arte, sim. Não sei se o resultado é dos melhores, mas é, definitivamente, uma "coisa" de arte.
Basicamente, cada elemento da composição representa aspectos da ilha. Tem uma tartaruga de pedras, tem a parte de cima de um bugre (lá, até taxi é bugre!) pintada de vermelho e ouro, têm tábuas de surf coloridas, têm objetos de uso quotidiano que ameaçam o ambiente (suponho que as garrafas de PET em forma de árvore aludam à reciclagem de tudo que é plástico), tem também a denúncia à poluição causada pela incúria dos próprios turistas.
Olhem, eu posso estar enganada, mas no vídeo acho que da para ver, não estou errada não...
No meio de tudo isso, surgem outros golfinhos e criaturas decorativa que se encontram na ilha. Alguns, não piores que os do Projeto Tamar...
No começo, coloquei também o "monumento" que marca o acesso ao centro histórico (aquele pássaro que se parece com um totem indiano) e uma escultura doada (à cidade?) pelo tal artista da placa... Bom, me diverti muito, na Colônia Penal de Fernando de Noronha: fiz todos os trabalho forçados do turista e, ainda, me dediquei aos estudos histórico-artísticos... vai vendo!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

UMA HISTÓRIA COM A MORAL: DOIS LEITORES MODELO.

Sylvia Beach com Hemingway e, no final, com Joyce.


Aleluia! Hoje encontrei um respaldo às minhas dificuldades com o Ulysses de Joyce. Esse é um livro que já comecei várias vezes e deixei de lado por me sentir "imatura para sua compreensão".
Da última vez cheguei à página 187 de minha edição, antes de desistir. Daquelas páginas, não entendi nada.
Frustrada por minha incapacidade de desfrutar dessa obra prima da literatura, me deparei com uma história interessante, a história da livraria parisiense "Shakespeare & Company", fundada por uma americana apaixonada pela vida na Europa, Sylvia Beach. Na Paris da década de '20 havia uma comunidade americana composta por escritores, artistas, intelectuais, ricos em férias vitalícias. Boa parte deles frequenta a livraria, pois é "o lugar" para comprar o que é bom em inglês. A livreira, Sylvia, é uma mulher que sabe gerenciar bem seu ne

gócio, pois gosta mesmo dessa vida: a parte "trendy", os moderninhos (os "modernos" de língua inglês) compram, sugerem, apresentam suas obras, enfim, por um efeito dominó a S&C é um lugar fashion.
Sylvia é também editora. Aliás: é "A" editora. Mais exatamente, a responsável pela publicação do Ulysses. A história disso é um caso a parte, pois os problemas foram constantes. Todas as vezes que Sylvia, como editora, enviava de volta os manuscritos (ilegíveis) com suas dúvidas, recebia de volta algo tão mudado que era, basicamente, um texto diferente.
Sylvia quase se arruinou, inclusive porque o livro foi censurado nos Estados Unidos e sequestrado. Enfim, dessa história toda, resultou um verdadeiro "abaixo assinado" de todos os escritores & artistas & intelectuais que se declararam contrários à censura.
Entre os outros que frequentavam a livraria, Hemingway é um amigo querido de Sylvia.
É. Hemingway, aquele que ganhou o prêmio Nobel pela literatura com histórias sangrentas, de matança, descrevendo a Espanha da tourada. E outras histórias sangrentas, de matança, descrevendo a Espanha da Guerra Civil. E outras histórias sangrentas, de matança, descrevendo a luta incansável do pescador arrastado por sua presa. (Parênt
esis: qualquer referência à saga "fundadora" da busca incansável pelos sete mares até o duelo final, saga que representa uma visão norte americana de certa obsessão do modelo masculino é puramente proposital: a presença de Moby Dick assola escritores e artistas até os dias de hoje... Fim do parêntesis).
Então, o Ulysses é censurado. Sylvia está se arruinando, porque seu investimento com o Joyce lhe impõe que dê dinheiro para o escritor comer e alimentar a família...
Certa estava ela. Fez algo pelo qual hoje devemos lembrar dessa mulher tanto quanto lembramos do Joyce. Acreditou na escrita e narrativas "sem fronteiras" de Joyce. Permitiu que milhões de leitores, milhares de estudiosos se debruçassem nas interpretações e referências infindáveis desse grande romance.
Aí vem minha pessoal questão: se é tudo isso, preciso ler o Ulysses. Eu seria boba de perder a chance de ler algo que pode "abrir" minha mente. Assim como penso que precisei ler o Hemingway (e o fiz) e Virgínia Wolf e Henry James e Katherine Mansfield e Willa Cather e por assim vai, encadeando leituras em uma rede que se expande.
Mas Joyce, nas minhas tentativas, se revelou um elemento difícil. O homem é irlandês. Vem daquele lugar que a gente conhece pelas fotografias
que expõem os altos rochedos, defesa natural contra os ataques inimigos, fortalezas naturais pelas quais o acesso é, no mínimo dificultado. Eu treinei. Lí, antes, os livros ditos "menores" (tanto por tamanho, como por dificuldade...), como "The Dubliners" e "Portarit of the artist as a young man". Li e achei legal. Sei lá, sem grande empolgação. Mas gostei, tá? Gostei.
Virgínia Wolf. Parte do treinamento em uma linguagem narrativa específica de uma recherche modernista. Aqueles que escrevem o "stream of consciousness". Precisa entender. Aí vou, lendo a Virgínia. E os contos eu gostei. E "Orlando" é um belíssimo livro. E "As horas" também não é uma narrativa que me chateia. História, personagens, ações, uso de um tempo não linear... tudo jóia, fa
zem uma literatura de primeira...
E aí, fui ao Joyce. Primeira vez parei na página 47. Segunda vez fui até a 120. Na terceira, cheguei à 147. Não que o aumento do número de páginas (e todas as vezes recomecei DO COMEÇO) seja proporcional ao incremento de compreensão. Não, não intendi nada na primeira, nada na segunda e nada na terceira.
Mas, encontro consolação em dois grandes parceiros. Que sei que não leram e, se leram, não gostaram.
O primeiro é nada mais nada menos que o prêmio Nobel pela literatura Hernest Hemingway. Ele NUNCA conseguiu ler o Ulysses. achava enfadonho.
A segunda é nada mais nada menos que a estrela parceira do próprio Joyce na galáxia do "stream of conscioussness", quando se cita um se cita, sempre, o outro: Virgínia Wolf.
Em seus diários, achei essa pérola em relação à leitura que ela fez:
"Acabei de terminar o Ulysses e o julgo um insucesso... É prolixo e desagradável. É um texto grosso, não somente de maneira objetiva, mas também de um ponto de vista literário".
CONCLUÍNDO!

1) Hemingway e Virgínia estão aí, luminosos indicadores de que o negócio da leitura de Joyce é barra pesada. Infelizmente, Virgínia se enganou sobre a qualidade literária do Ulysses, que ficou como ponto sem volta na literatura. Então, me consolo dizendo que um dia vou conseguir, porque continua valendo a pena. De que as dificuldades possam ser praticamente intransponíveis, Hemingway e Wolf são testemunhas. Mas precisa fazer como Virgínia: chegar até o fim para falar.
2) Sem essa mulher, Sylvia Beach, tudo isso não teria sido possível. O Ulysses, talvez, não existiria.
E isso me leva a conclusão número
3) Hemingway, com o simples ato de manifestar contra a censura, a respeito de um livro que não leu, nos diz o seguinte: "Antes de censurar um livro ou uma obra de arte, é fundamental lembrar que se deve deixar a possibilidade de ler/ver a todos. Somente essa liberdade é
fundamental. As pessoas, com base no que será dito daquele livro ou daquela obra de arte, escolherão se ler/ver. a discordância dos conteúdos, ou da forma, deve poder ser expressado, como fez Virgínia Wolf, na base de um "Li". Ainda que não tenha gostado.
A censura não permite isso. Ela navega um barco furado carregado prevalentemente de gente que julga um livro ou uma obra sem ter se dado ao trabalho de ler/ver. Se essa gente, bucha de canhão de alguém interessado na censura escolhe acreditar nisso, ninguém vai obriga-los a ler/ver. Se essa gente for ler/ver, poderá julgar com conhecimento e terá duas opções: convencer de que o livro/obra não tem valor ou mudar de opinião.
Parece complicado? Não, são as regras da democracia...


domingo, 5 de fevereiro de 2012

RECALCADA. UMA HISTÓRIA DE SEXO, ARROGÂNCIA E MULHERES (O USO SEXISTA DAS PALAVRAS).



Quando preciso de uma definição rápida de alguma palavra, recorro, infelizmente, aos recursos da rede. Isso, porque preciso usar as palavras em algum texto não acadêmico, nada de publicável em revistas qualizadas.
Um dos meus "instrumentos" é o trágico Dicionário online de língua portuguesa (www.dicio.com.br), lastimável recurso que, acredito, não somente eu utilizo.
Hoje, em uma conversa, ouvi o termo "recalcada". Sou estrangeira, os falsos cognatos me perturbam, assim como as assonâncias, o risco de falar entendendo algo através de uma semiose "filtro de sentidos" moldada em interpretações "estrangeiras" é muuuito grande.
Então, lá fui eu descobrir a definição corrente que é dada à palavra "recalcada".
Obviamente, precisei procurar o masculino, pois não se escreve, em um dicionário, a não ser quando inevitável (e veremos como isso acontece...), a definição de palavras declinadas no feminino.
Recalcado: Concentrado, reprimido.
Psicanálise Diz-se do indivíduo que sofre recalques.
Recalcar: Introduzir com força: recalcar uma cavilha.
Psicanálise Excluir de admissão consciente uma recordação, uma tendência etc.
Sinônimos: comprimir, refrear, conter e repisar.
Marquei em vermelho duas coisas.
Seguindo as pistas das definições, peguei aquela que melhor prometia: reprimido. Mas é também contido, moderado. Enfim, a certa altura desse passeio começam a aparecer termos como pedante, presunçoso.
No final, tem uma "área" muito interessante, no termo recalcado, que pode ser transposto para recalcada. Os/as recalcados/as são arrogantes, sim, mas o são de uma maneira que pode até ser agradável. Tem uma polidez no termo que descreve a própria polidez dos/as recalcados/as. São antipáticos em muitos aspectos, mas não de tudo.
Recalcado é sinonimo, ao mesmo tempo, de compreendido e de reprimido.
Compreendido é entendido. O exemplo que o www.dicio.com.br, no verbete entendido, é "homem entendido em negócios", que não é uma desvalorização, aliás, muito pelo contrário. Deveria me sentir até lisongeada, por ter a possibilidade de ser "entendida" em quanto "mulher entendida em negócios". Soa esquisito... Não soa do mesmo jeito, mas o www.dicio.com.br é para pessoas de marca vitoriana e não define a existência de um significado popular "chulo" ao feminino de entendido. A entendida, sabemos, não é a mesma coisa de um "homem entendido em negócios".
Para procurar, então, uma identidade de sentidos à palavra "recalcada" precisei sair da sinuca de bico representada pela cadeia de definição que me levou à inexistência, ainda em sua definição de palavra de baixo calão, da definição de "entendida". Muito bem, comecei, aí, a seguir as definições de outra palavra que traça os contornos de "recalcada". Para recalcado, tem a definição de percebido, que leva a "que se percebeu". Ou seja, percebeu-SE. O contrário do humilde: o arrogante. Sim, recalcado/a é uma forma de uma polidez maravilhosa para falar "arrogante". Não é sinônimo. É vizinho semioticamente. Tem definições, no conjunto de palavras que definem e que são sinônimos, de arrogante e recalcado que são comuns. É uma tonalidade da arrogância socialmente aceitável, pois em sendo contido o recalcado não exagera em seus modos e afirmações. Em geral, mas não sempre. Se fosse sempre contido em suas manifestações de arrogância, não seria arrogante, nem recalcado. Mas não, é recalcado, cuja cadeia de sentido leva a atitudes que, em suas ambiguidades, não são necessariamente negativas. O próprio verbete contido é... "contido". A sequencia contido/recalcado/reprimido indica uma arrogância no mínimo consciente de si mesma. Não tendo eu outras pistas a seguir, para pensar arrogante e recalcada, levo isso praticamente como um elogio, pois oferece uma gama de gradações de mim um pouco mais "abertas" do que simplesmente o rótulo "arrogante". O termo "recalcado" não é nem óbvio nem simples, quando usado para "definir" uma pessoa, a torna mais complexa ao invés de banaliza-la. Recalcada é uma arrogante politicamente correta em suas posturas, mas ainda assim, "pernóstica, pedante e pretensiosa" em muitos aspectos (vale a pena descobrir as definições...).
Depois de tudo isso, venho à questão que quero discutir:
Chamo aqui todos para testemunhar que, daqui em diante, tentarei eliminar o uso do adjetivo METIDA de toda e qualquer referência a mulheres, sejam elas "amigas" ou "inimigas", em qualquer circunstância eu me encontre.
Depois de eu explicar, vão entender porque é importante que uma pernóstica, arrogante, recalcada, pedante, pretensiosa (usem o termo que quiserem, eles apontam para uma única coisa, são somente "degraus diferentes" de expressar a mesma coisa) seja chamada com essas palavras, mas não com a palavra METIDA, pois é uma palavra que pertence a um campo semântico totalmente diferente... Ou, talvez, não.
Quero frisar que o problema não é a arrogância, mas o uso para definir uma mulher arrogante com a palavra METIDA.
Nada a ver. Nhão nhão nhão.
Arrogante (que pode derivar, pernosticamente, do latim arrogans, arrogantis, terceira declinação, portanto virou, em geral masculino, mas é difícil entender de cara o "gênero", pela terminação em e..., mas não se preocupem, indica, em primeiro lugar, o masculino) pertence à semântica de empolado (pernóstico, pedante), vaidoso, soberbo, presunçoso. Em breve: é um dos sete pecados capitais, é por culpa da arrogância de uma mulher que nos expulsaram do Éden... Ato de soberba... Pior ainda: existe uma tradição profundamente enraizada que diz que às mulheres cabe a modéstia, que a vaidade é pior em uma mulher... Uma mulher arrogante pode se-lo menos que um homem, sempre o será mais...
Presunçoso me surpreende, pois é tudo de mal, pois tem uma opinião muito elevada de si, é pretensioso, rebuscado... peraí, rebuscado é um termo interessante, é complexo, remete a recalcado, remete ao mundo barroco das metáforas "rebuscadas", será que é de todo ruim?
Lá fui eu ver. Rebuscado: esmerado, polido, requintado, aprimorado... eis a grande complexidade e riqueza de definir um arrogante usando o termo recalcado: também é polido. É, de certa maneira, um reconhecimento de qualidades... É uma crítica que elogia, um elogio que critica: cuidado com sua arrogância, mas pode ser algo legal dependendo do uso que você, recalcado, faz disso.
Nesses tempos de trajetórias limitadas entre o Big Brother Brasil e as fofocas da Veja, capazes de dividir de maneira monstruosa as opiniões, o uso de termos como recalcada para uma mulher é extraordinariamente enriquecedor.
Mas METIDA continua a não ter nada a ver com essa semântica.
Ouço com frequencia o uso da palavra "metido", em geral utilizado como sinônimo de arrogante.
E, com efeito, meu www.dico.com.br me explica que metido está na mesma "casa dos sentidos" de arrogante, pois diz que é alguém presumido e petulante. Diz outras coisas também, mas nunca ouvi o uso da palavra metido no sentido de "familiarizado, que vive em intimidade".
Então, METIDA seria o feminino de metido????
Não.
Não é.
Nada a ver.
O dicionário, nesse caso, define, através do uso que na gíria é feito o feminino de metido. Lembro que, no caso de entendida, a gíria não existia. Novamente, me vem a suspeita de escolha vitorianas...
METIDA: sf (part fem de meter) gír Cópula, coito.
Particípio feminino de "meter". Uma metida é um ato sexual realizado por alguém que "se mete" e alguém que, passivamente, "recebe".
A definição de meter, no dicionário, não se refere a qualquer ato sexual. Diz que meter é pôr dentro, introduzir. É evidente que se trata de um sentido bem ativo. Meter é usado também para indicar algo que, na gama de um imaginário ocidental é objeto de inúmeras narrativas: meter-se como aventurar-se, fazer algo sem estar em condições de faze-lo. Interessante o deslize para a esfera semântica do aventureiro, que vai desde Ulisses (o vagabundo) até Jack London e muito além. Oh, é tudo tão viril que se torna até estereótipo hollywodiano de muitos heróis, com efeito aventureiros, que se metem, se aventuram e, possivelmente, encontram uma mulher para exercer outro uso da primeira definição (ativa) que define o verbo.
Aventureiro tem uma oscilação fascinante de sentido, entre temerário e vagabundo).
Bom, chamar um macho de metido é menos feio do que a gente imagina. O campo semântico conjura para que o metido possa ser uma pessoa fascinante... um homem vivido. A definição de temeroso é a seguinte: Que infunde temor; terrível, assustador: o temeroso guerreiro não poupava os inimigos. (essa é a PRIMEIRA definição dada pelo meu dicionário de auxílio ao português.
Então, se metido é quem infunde temor; terrível, assustador: o temeroso guerreiro que não poupava os inimigos, enaltece uma certa idéia de virilidade correntemente presente no mercado das idéias.
E aí, METIDA é somente o feminino de metido?????
NÃO, DE JEITO NENHUM.
A definição é clara: é uma cópula.
Quando alguém, crente que está falando da arrogância de uma mulher usa o termo METIDA, simplesmente está dizendo que essa mulher não passa de uma presa sexual para um homem que, naquela situação é aquele que age feito "o temeroso guerreiro que não poupava os inimigos".
Sem sabermos disso, ou sabendo (o que é a mesma coisa), usamos uma expressão de um sexismo absoluto todas as vezes que denegrimos a complexidade do recalque de uma mulher, amarrando-a à pura sexualidade.
Como sou pernóstica, saibam que
SIC DIXIT FONS VOCABULÁRIUM PORTUGHESIS LINGUAE IN LINEA.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Somos todos cyborg/robots

Amanhã vou visitar o dentista. Não será uma visita de prazer. É que ontem quebrou uma de minhas pecas de reposição, uma prótese em vidro resina em minha boca. Se partiu. Aí, percebi que ela se sustentava por uma barrinha de metal fixada em outros dois dentes, eles também "retocados".
Desandei a meditar sobre a substância que nos compõe e, daí para as reflexões filosófico-tecnológico-ficçãocientificistas o passo foi breve.
Pensei que conheço um monte de gente cujos corpos foram modificados de maneira a englobar peças de metal. Por exemplo, quem quebrou um joelho, um braço ou outras partes, em geral é dotado de pinos. Depois, tem os que englobas metais e/o materiais orgânicos. por exemplo, quem operou de válvulas do coração, substituiu as peças originais de fábrica por outras, que podem ser de origem animal (válvulas biológicas de porco) ou de metal. Ainda, quem teve a caixa torácica serrada por uma operação dessa natureza, pode ser dotado de uma placa de metal para reunir novamente os ossos.
Pensei, também, nas partes sintéticas incorporadas por exemplo nas prótese várias (desde braços/pernas artificiais até partes em silicone).
Moral da história, minha barrinha de metal na boca, super integrada com minhas partes biológicas, é o primeiro passo um para a robotização/cyborguização. Vou revestir de novo esse metal. Minhas partes mecânica vão simular, novamente, o corpo humano....
Basicamente, essa integração tecnológica faz com que aquilo que já foi ficção científica, principalmente o gênero Cyberpunk, seja, hoje, mera realidade.
Queria fazer enxerto de duas asas também. Ainda não pode, mas logo logo conseguirei. Por enquanto, começo com um implante...