domingo, 29 de novembro de 2009

ODE ON A MODERN PLAY STATION.


Oh, é o seguinte: descobri uma coisa muito legal com 40 anos, uma coisa que mudou radicalmente minha ideia sobre jovens & adolescantes.
Comprei uma Play Station e já viciei. Como disse um amigo meu, "agora para sair dessa só com crack". Meu mundo mudou. Minha percepção de realidade que engloba as noções de tempo e espaço foram radicalmente modificadas. Joguei uma parte de um jogo ambientado em Springfield, e me tornei Homer Simpson e Burt Simpson, tentando desvendar o mistério das entradas, subidas e descidas do Fantástico Mundo de Chocolate, à cata do Coelho Branco Metido, para encher o bicho de porradas, pulei em cima de um dinossauro em um grande museu, e parei só quando fiquei enroscada na sala da astronomia. Como não tenho o cartão de memória, na próxima jogada terei que começar tudo de novo.Depois, entrei no mundo de Hogwarths, cavalguei uma vassoura em alta velocidade, fiz um monte de poções esquisitas e completei o game, tirando muita satisfação do meu tempo gasto em manipular mágicas.

Moral da história: uma coisa é falar de todas essas tecnologias, uma coisa é ser usuário.
Engana-se quem pensa que todo jogo é só uma perda de tempo. A maioria dos jogos pede, no mínimo, concentração, memória e coordenação de movimentos. Quando não de habilidades estratégicas. Estou doida para jogar um jogo de desastres, terremotos & inundações, que já vi que no nível básico tem que sair de uma ponte altíssima sobre o mar, no meio dos escombros de trens.
O fato é que a VR te suga mesmo, é uma delícia correr atrás do fantasma de Nick sem cabeça, misturar ingredientes escusos para as poções, aprender os feitiços, voar.

Eu não me senti alienada. Não mais do que uma pessoa que resolve se dedicar à reconstruir um quebra cabeça: concentrado, atento, eventualmente colaborativo: penso nas pessoas que, eventualmente, ajudam.
Bom, sou muito boa em poções, acerto na primeira até as mais difíceis. Também no Quiddich não sou nada mal!

Próximo passo: descobrir as maravilhas do E-Book, que me mostraram um e o objeto quase teve um curto circuito, de tanto que babei nele!
Os E-Books vão substituir os livros impressos? Não, eu não acho. Nada substitui o prazer de um livro com sua capa e cheiro de cola, que já dizem muito sobre a qualidade do impresso. Não, na beira de um rio, na praia, no banheiro quero mesmo é papel. Mas o que o E-Book me permite fazer é... bom, é diferente, é uma outra leitura que eu quero experimentar e saborear, assim como estou saboreando (e curtindo à beça) minha PS2 desbloqueada, com um mundo 3D que, confesso, me seduz ao ponto de eu ficar babaquinha!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O QUE FIZ: MOMENTO AUTOBIOGRÁFICO.


Desde criança gostava de ler: com dez anos era fã da detetive Nancy Drew e dos Pimlico Boys: policiais infantis. Por outro lado, gostava também de Tom Sawyer, Huck Finn e Alice no país das maravilhas. Meus problemas datam dessa época, acredito: de um lado, lia ficção de massa, do outro, literatura infantil canônica. Gostava das duas, mas crescendo as coisas pioraram: lia, ao mesmo tempo, Dickens e Stephen King. Já dizia Hugo de São Vítor que algo acontece, sempre, quando se lê. No mínimo, se aprende a ler. Por isso, como leitora e, por acasos do destino, estudiosa de livros e leitores, aprendi que é errado julgar um livro pela capa. Quando cheguei ao Brasil, há alguns anos, precisava aprender, e rapidamente, a língua.

Sou indisciplinada o suficiente para não agüentar cursos de língua: com fastio penso nas tediosas sessões de “Bom dia, boa tarde, meu nome é...” das aulas de língua, Lembrei-me de como meu inglês “cresceu” durante minha estadia em Amsterdam, com uma bolsa de estudo para estudar latim: já tinha que entender uma língua morta e enterrada e não consegui aprender Holandês. Meu inglês, porém, ficou enriquecido: todos falam a língua, portanto podia me comunicar. Só que falavam inglês bom, e eu precisava estar a altura. Resultado: resolvi ler em inglês. Primeiramente, escolhi livros bem de massa, tipo policiais ou histórias de fantasy sabendo que a linguagem frequentemente pobre não ia me enlouquecer por não entende-la. E, no meu tempo livre, fui lendo.

Não parei, hoje enfrento sem dificuldade Dickens ou outros autores mais “clássicos”, poderíamos dizer. Aqui no Brasil, segui a mesma trajetória: comecei com literatura bem simples e de vocabulário pobre, Paulo Coelho, para ser exata. Também, ao mesmo tempo, lia literatura não ficcional para meu doutorado. Uma tese sobre modernismo brasileiro, que me “arrastou”, já na época, pelo mau caminho da leitura dos documentos literários, ao invés de me dedicar aos estudos teórico e às pesquisas existentes sobre essa literatura.

Não parei e não vou parar de ler “bobagens”, pois elas são altamente reveladoras dos públicos leitores e, vivendo no mundo atual, me permitem algumas referências comparativas com outros públicos. Considero-me privilegiada por conhecer alguns autores considerados canônicos, e desejaria que mais pessoas os encontrassem sem intermediações. Desde os vinte e cinco anos meu work in progress é a leitura integral da obra de Zola, autor que pertence ao “cânone” literário universal, mas de sua obra se encontram poucos títulos traduzidos com facilidade.

Ainda, me cimentei com Dostoievskij: comecei pela história de Natalia Niesvanova, pois sabia que havia “rumores” sobre a relação homossexual da protagonista com a princesa Marina, mas queria saber mais. Li Crime e Castigo, com o qual ri sozinha no meu lar e do qual marquei páginas e páginas com anotações. Aos poucos, fui me interessando cada vez mais no desenlace do encontro entre o “cânone universal” e a literatura lusófona. Deparei-me com o século XIX, de Eça de Queiroz para o litoral brasileiro, encontrando Júlio Ribeiro, Aluisio de Azevedo, Adolfo Caminha.

Cada vez mais preciso saber o que está impresso na obra citada em determinado artigo ou livro. Se não fizer isso, me sinto como se estivesse falando do que não sei e nunca vi, sempre às ordens da palavra alheia, à qual confiro por obrigação uma autoridade acadêmica. Mas, mais medieval do que nunca, reconheço essa autoridade somente no ato de minha apropriação da leitura: não somente concordando com o crítico ou estudioso, mas também discordando dele, ato tão profundamente acadêmico quanto mais embasado na leitura e no estudo.

sábado, 14 de novembro de 2009

SOBRE O SEXO DAS ESCOVAS DE DENTES.



Vi uma publicidade de uma escova de dentes da Colgate.

Já que estou envolvida na elaboração de um ensaio acadêmico de máxima & absoluta seriedade, era óbvio que minha cabeça ficasse divagando, perdida atrás do simbolismo de duas escovas dentais conversando tranquilamente na tela de minha TV.

Já está assumido que é normal ver escovas de dentes falantes.

Isso é preocupante?

O que me assusta destas duas escovas de dentes animadas é que elas não estão atuando como duas personagens infanto-juvenis, mas para um público adulto.

E meu ensaio acadêmico hiper-mega-ultra profundo & erudito sobre a memória do passado, do presente e do futuro foi definitivamente derrotado pelo interesse em mim suscitado pelas duas escovas de dentes.

Oh, tempos de costumes ingratos, onde ao severo trabalho do erudito se substitui assombrosa a peça publicitária mais escrotinha dos últimos tempos!!! Reparem, aqui, como parece de verdade meu desespero em relação ao ensaio derrotado por novos & BEM mais dignos temas...

A publicidade em questão é escrotinha porque me ofende em dois pontos, sem que reparemos muito sobre o porque, enquanto a alegre paleta de cores escolhida para essa animação de poucos segundos nos remete às cores de brinquedos infantis:

1) No tratamento infantil reservado aos compradores do produto que, pela conversa explícita, tão crianças não se imagina que sejam.

2) Nos estereótipos sexistas que as duas escovas engendram.

A publicidade: duas escovas, uma vermelha, mais baixa, com formas no cabo que remetem a um corpo com curvas, voz feminina, dá uma cantada barata na segunda escova, branca com pontos de cor, mais... “ereta”, voz masculina. Uma escova “varonil”. Se inclinando para a escova macho, a escovinha vermelha, que chamarei de RED, aproxima seu busto e começa e tecer elogios das virtudes atribuídas ao macho de plástico falante, que chamarei NERD. Esse estranho espécime químico/plástico, o Nerd responde, com efeito com voz de nerd, mostrando a “solidez” da fama, explicando que, sim, ele limpa e protege muito, mas muito mais cuidadosamente contra as bactérias. Enquanto isso, na tela se pode apreciar o movimento de “cuidadosa limpeza & higienização” de uma cavidade oral. A “peça” se encerra com a afirmação da escovinha sexy RED de que ele realmente alcança todos os pontos...

ATÉ CHEGAR LÁ, ONDE NENHUM HOMEM JAMAIS ESTEVE?????

Ora, pois. Ora, pois.

Espera-se que a animação, com essa “carga erótica” embutida não fora pensada com o objetivo de alcançar um público infanto-juvenil.

Seria, aqui, redundante, explicar que um tipo de publicidade assim é sexista na medida em que, para lá o jogo de paquera, saudável atividade, as duas escovas codificam “mitos” sobre forças e fragilidades.

A escovinha Red é uma pequena mulher de plástico enfaixada por um vestido vermelho, que não remete exatamente a um ambiente de escritório. Ela desloca seu “rostinho” de cerdas, talvez traindo a idade acima dos 40, não é voz de menina, e suas cerdas estão um pouco gastas.

Pobre sexy Red, que já se dispõe à resposta mais Nerd de todas, enfastiante, sem brilho, digna de um engenheiro acostumado ao lado prático das coisas, ela olhando com seus olhinhos azuis para frente e para cima, enquanto o amigão Nerd, em sua altura melhor, acaba dando uma espiadela nos peitinho da plástica Red, ele, que deve ter passado boa parte da sua vida lidando com máus álitos, barriguinha, futebol & cerveja (Nerd também não é mocinho...). Nerd explica o que sabe fazer. Sem poesia. Do alto de sua “hombridade”.

Não estou brincando, essa publicidade é de um sexismo incrível, e se for para gente “adulta”, me poupem da metáfora e coloquem atores em carne e osso, que meu cérebro derrete, na frente dessa meleca animada.

Claro: dessa maneira a Colgate fixou seu produto em alguém. Não em mim, pois não lembro do nome do Nerd.

Não quero um mundo politicamente correto, mas estou um pouco entediada pelo fato de não me reconhecer nas representações que de certas idéias do feminino bem marcadas por aí.

Quero dizer, se a publicidade é a representação de sonhos e desejos de consumo mais ou menos induzidos,

O QUE ACONTECE COM AS PRIVADAS????

Quero dizer, contem o numero de vezes que passam publicidades em que mulheres desesperadas recebem visitas inesperadas em seus lares. Pode ser uma verdadeira equipe de fiscalização televisiva vestida de jalecos brancos ou uma atriz, ou a criança da vizinha que resolveu atualizar o dito sobre a grama do vizinho que é sempre mais verde pela versão o banheiro da vizinha é sempre mais limpo.

Todas essas visitas são acompanhadas por um pedido assaz estranho: posso ver seu banheiro/sua privada? Eis a primeira estranheza: POR QUE toda essa gente quer “ver” a privada, que já se tornou, assim, lugar de sociabilidade extrema?

A resposta não é simples: os banheiros dessas pobres mulheres são imundos, fedem, precisa de escafandro de proteção, para se aproximar deles... Por que cargas de água toda essa gente tem esse desejo perverso????

REALMENTE OS GÊNIOS DA PUBLICIDADE SÃO TÃO ALIENADOS QUE ACREDITAM QUE MEU SONHO DE CONSUMO DEVE SER OBTER A PRIVADA MAIS LIMPA DA HISTÓRIA?

O QUE SE GANHA, COM ISSO? ALGUM NOBEL?

E, principalmente, a dúvida:

POR QUE NENHUM HOMEM ESTÁ ENVOLVIDO NA TAREFA DE ENCONTRAR

UM PARAÍSO

NA PRIVADA?

Volto ao meu ensaio erudito...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ANHANGUERA MON AMOUR: É PARAÍBA!

Há pouca literatura de viagem escrita por mulheres. Para falar a verdade, só me vêm à cabeça dois nomes, o de Vita Sackville-West, quando conta de sua viagem e estadia na Pérsia (que não escreve exatamente crônicas de viagem, é um relato um pouco romanceado) e o de Annemarie Schwartzenbach, uma viajante suiça da década de 1930, amiga dos filhos de Thomas Mann, Klaus e Érica, com os quais viaja pela Europa. Sozinha, porém, enfrenta o Oriente Médio e o Afghanistão em suas andança, assim como o sul (pobre) dos EUA durante a depressão, aquele sul imortalizado na literatura por Carson McCullers, que por ela se apaixonou. Conhecida por sua vida desregrada, regada a alcool e drogas, Annemarie morreu (pasmem!) depois de uma queda de bicicleta na nativa Suiça, em 1942.
Com certeza há outras autoras por aí, mas que eu saiba, nenhum alcança, nos últimos 70 anos, um status de autora de literatura de viagem comparável, sei lá, à fama de um Bruce Chatwin o de um William Least-Heatmoon. A produção masculina desse gênero literário é, sem dúvida alguma, muito mais ampla e rica, doutada de um corpus literário de bem outra espessura.
Virgeinia Woolf, em seu clássico A room of her own afirma a grande limitação da falta de um espaço (intelectual, mas fisicamente real) dentro do lar onde as mulheres produzissem a salvo das interferências externas familiares e domésticas.
Eu quero, aqui, colocar o reconhecimento de outra limitação dada ao corpos das mulheres: o limite do espaço externo, exterior como redução da possibilidade de viagem, como possibilidade da qual as mulheres têm sido sistematicamente limitadas.
Limitadas no tempo e no espaço, limitadas com afinco, uma limitação que continua limitando seus passos. São muitos, muitos mesmos, os espaços e os lugares negados às mulheres, nos territórios onde os viajantes transitam somente quando são homens (ou seja: de sexo masculino).
Boa parte do mundo, até hoje, rejeita a ideia, quando não a simples hipótese, de mulheres que se deslocam sozinhas pelo mundo, sem a "proteção" de um homem, seja pai, irmão, filho ou marido. A viagem legítima, para uma mulher, é a viagem com uma meta, uma razão. A viagem pela viagem, a viagem pelo prazer de viajar por esse mundo curioso, não lhe pertence.
Proibições evidentes são as interdições a espaços religiosos ou públicos em muitas partes do mundo. Menos evidentes são as limitações que ela enfrenta em países onde a teoria a vê como sujeito, mas ainda assim ela é socialmente objeto.
Foi nisso, que pensei, nesses dias que passei em João Pessoa, enquanto tentava conciliar meu desejo de andar por aí descobrindo, sozinha, a cidade e suas praias, com as necessidades de um congresso. Sou caxias, o congresso ganhou, e eu só tenho algumas imagens e poucas impressões verbais, que não passam da síntese de um guia de viagem ou de uma brochura turística...