quarta-feira, 1 de julho de 2009

ANHANGUERA MON AMOUR: O QUE A CANA DEU.


A “luz do Interior” me ilumina, de Campinas até Ribeirão: com toda essa luz me cegando que nem a “cegueira branca” do Saramago, acabo juntando coisas tão distantes entre elas que no final o que vejo é um verdadeiro patchwork. Bem neobarrocoposmodernofuturista

O problema, em toda essa “juntação” (sei que não existe essa palavra, mas não encontrei uma que melhor ilustrasse o que acontece viajando pela SP 330), é que entre um caminhão e outro e entre uma cidade alienígena e outra só têm canaviais. E mais canaviais. E depois, tem canaviais. É muita cana. Esse é o problema: cana, cidade, cana, cidade, cana, cidade. E depois de Ribeirão, e em volta de tudo, cana, cana, cana...

E tornar a cana algo interessante não é lá uma das coisas mais fáceis no mundo. Com a cana de açúcar se faz açúcar. Com a cana de açúcar se faz combustível. É meio-oeste. E meio-oeste no Estado de São Paulo acabou se misturando, no começo, com o Kansas de Dorothy.

É a fronteira:

boring/kitch/camp/transreal.

É Espaço da Grande América.

Minha Route 66 é a SP 330.

Minha Kalifórnia é tropical e Província-até-Macondo.

Não tem mar, no fim da estrada que, para mim acaba no nada sem lei onde conflitos rurais estão fora de meu alcance. Nada de Hollywood. Faltam mitos & mitologias. Sei lá... “depois” tem bichos exóticos: o Pontal de Paranapanema (pará-pará-pará-pará-pampam!), é terra de Indiana Jones. Um lugar que chama Presidente PRUDENTE é praticamente um alerta que pisca na noite. Eu já não tenho mais idade para tanto esforço físico e sou um pouco covarde, então fico “antes”, pois tenho um pouco de receio em ir até “onde os fracos não têm vez”.

Limito-me ao preguiçoso exercício de “fluxar”. Que acho ser o verbo que encarna a evolução última do “flanêur”, que andava a pé, vadiando, pela cidade moderna. Depois veio a “deriva’ situacionista, feita por andarilhos pós modernos que descobrem as ruínas da modernidade em uma abordagem “waste”, que não é a mesma coisa do trash, esse último envolvendo um ato voluntário de exagero grotesco. O waste é o mundo do que entendemos mesmo como lixo, amontoado de palavras e coisas perdidas no abandono e na explosão de usinas e periferias e cidades superlotadas e minas a céu aberto como nas fotos do Salgado.

E agora, o FLUXO, a observação através da FLUXAÇÃO. O fluxo é deixar que ao waste se una o trash. O resultado é um mapa onírico de “coisas” cuja falta total de sentido, cujo deslocamento con/textual é tamanho que só deixa espaço para as fábulas criadas nesse andar a quatro rodas por uma rodovia que, sem inventar fábulas, seria somente boring, boring, boring.

Depois do pós-moderno, se eu pudesse escolher (com ato canhestro de marketing rasteiro) um rotulo para essa era que o século XXI inaugurou seria “eternal boring”, “fastio eterno”. E as fábulas são o eterno remédio contra o tédio.

Seguindo minhas dicas de FLUXAÇÃO não sentirão mais fastio, nem tédio. E depois disso, o mundo nunca mais será o mesmo. A satisfação é tão garantida que nem devolvemos o seu dinheiro (ninguém aqui é besta!).

Enquanto os dias, meses, estações, anos passavam, eu com eles (ficava passada) ao longo da SP 330, eu vi muitas, muitas coisas acontecendo.

Vocês não imaginam. Não podem nem saber

O QUE BROTA DA CANA.

Mas eu quero, aqui, deixar minha TESTEMUNHA: O QUE BROTA DA CANA É UM BARATO!

SP 330 – melhor conhecida como Anhanguera - entre São Paulo e Ribeirão: uma aventura no Reino de OZ, nos horrores de Stephen King, nas razões reais e materiais da riqueza & da miséria, material como moral e espiritual de um Lugar Incerto e Não Sabido: um recorte casual do interior do Estado de São Paulo. Lugar tão significativo que no Google Earth está com poucas, pouquíssimas, excessivamente raras fotos.

SOU A FAVOR DA PLATAFORMA COLABORATIVA WEB 2.0. Então lanço aqui a primeira pedra (taco uma pedra na cabeça de alguém), alicerce de um futuro cheio de enriquecimentos antropológicos & fotográficos: VAMOS FOTOGRAFAR MELHOR A ANHANGUERA, VAMOS DEIXAR VESTÍGIOS SURREAIS NOS MAPAS!

Com algumas esticadas & repuxadas & desvios por veredas próximas e distantes, como desdobramentos de caminhos insanamente lúcidos rumo Marília, ousando penetrar os exóticos mistérios de Assis e, apesar do risco que isso pode representar para a estabilidade emocional de qualquer ser humano minimamente razoável, até Londrina (nôôôssa, ôia o piriiiigo!!!!).

O QUE BROTA DA CANA.

É um sumo volátil. Não é cachaça, não é combustível, O QUE BROTA DA CANA. É algo que alucina, gente, alucina, porque se não alucinasse, não existiria explicação pelo que encontrei & encontro “fluxando por aí”

ANDAR PELA ANHANGUERA & “ARREDORES” É:

COMO TOMAR A PÍLULA DE MATRIX. Aquela que atravessa o espelho.

COMO ENTRAR NA TOCA DO COELHO DE ALÍCE. E encontrar o País das Maravilhas.

COMO ESTAR EM UMA ÁREA PRÓXIMA DAQUELA QUE PODERIA SER A HOGWARTS TROPICAL. Alguns fenômenos só se explicam se aceitarmos que existem coisas como Curupiras, Berradores e Sacis.

Ainda, O QUE BROTA DA CANA:

1) Não encontrou um Van Gogh tropical, isso é: alguém capaz de interpretar as matizes das cores desse espaço geográfico fortemente simbólico. Tenho alguns “esboços de idéias” sobre essa coisa de ser simbólico, aliás, basicamente é tudo uma grande viagem sobre isso.

2) Não encontrou um Balzac ou um Flaubert tropicais que tivessem a crueldade e a habilidade de contar os pecados execráveis da província local.

3) Não encontrou um Stephen King que relatasse em contos de monstros, horrores & terrores os detalhes d’ O QUE BROTA DA CANA.

4) Não encontrou um Gabriel Garcia Márquez, capaz de aprofundar os mistérios das muitas, muitas Macondos que florescem entre a Anhanguera e o País das Maravilhas/Terra de Oz que por aqui afloram a todo instante.

Exemplos? Dêem uma volta por nomes irresistíveis como Analândia (paraíso turístico do rapazes de Ponta Grossa?), Penápolis (perto de Patópolis?), Batatais (Camp Potatoes?), Delfinópolis (estância serrana de colônias de mamíferos marinos simpáticos e sociáveis? Lugar onde se mudou o oráculo de Delfi quando aposentou?).

Passem ao lado de placas que apontam, sedutoras, para misteriosos lugares que é melhor não conhecer para não ficar decepcionados. Por exemplo: CACHOEIRA DE EMAS, lá em Pirassununga.

Embebedada pelos miasmas do bagaço da cana que o vento carrega para longe da “usina de processamento” (seria essa a evolução do engenho da cana?) para fabricação de ESPÍRITOS, alucinando na frente dos totens de garrafas king size, vejo há dias, meses, estações, anos etc, etc, uma placa rodoviária indicando a saída para

UMA CACHOEIRA DE EMAS!

Dá para imaginar algo mais interessante que isso?

Imaginar uma CACHOEIRA cheia de bichos, cheia de EMAS, que devem fazer um barulho grande, caindo... e de onde vêm o abastecimento de emas? E para onde vão? Têm represa de emas? E, principalmente.... POR QUE NINGUÉM NUNCA DISSE/CONTOU/DESENHOU a CACHOEIRA DE EMAS?

Agora... como tenho medo de fortes desilusões, não vou checar. Vai que os emas se machucam, quando chegam ao fundo, e por isso ninguém conta da cachoeira, é muito sangrenta (e CADÊ o Stephen King tropical?????).

Moral da história... contei minhas descobertas por aí, mas como eu não sou Van Gogh, nem Balzac, nem Flaubert, nem Stephen King, nem Márquez, só posso é dar umas “dicas para viagens alucinantes” para quem quer penetrar de maneira diferente a “Quinta Dimensão” da Anhanguera & Cia.

Serei

o Baedecker do interior,

o Quatro Rodas da margem surreal da rodovia (A terceira margem?),

o google HEART antropo-sentimental

de um espaço inclassificável nas categorias estéticas conhecidas.

Quando eu crescer,

Serei uma “pequena Baudrillard” dos trópicos...

2 comentários:

  1. Se cana desse fungo, igual centeio, de certo teriamos uma produção intelecto-canavieira bem mais prolífera...

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  2. Senhorita Fada de Preto,

    Por acaso sabe chupar cana e assobiar ao mesmo tempo?

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