segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A DERROCADA DE QUALQUER HUMANIDADE


Em que ano estamos?
Até ontem, achava que era 2011. Já hoje tenho a sensação de perdermos um milênio. Pelo menos em Black Stream, alguém esqueceu de mudar o calendário, e paramos, assim, no ano 1000.
Se continuar assim, em breve voltaremos à Idade da Pedra, e as mulheres serão escolhidas a pauladas na cabeça. Por enquanto, estamos na caça às bruxas.
Em 2011 somos obrigados a ouvir afirmações do seguinte teor:
"DEMITA ESSA LÉSBICA SUJA E NOJENTA IMEDIATAMENTE, QUE NUNCA MAIS APAREÇA EM MINHA FRENTE". É isso que acontece em Black Stream.
Mulheres que dão nojo, pois não estão à disposição das fantasias de dominação masculinas. Mulheres que dão nojo, pois buscam sua independência na vida quotidiana, no trabalho, no pensamento.
Em 2011.
Discriminação é crime?????????
O rancor surdo e tamborilhante de machos psicologicamente impotentes aqui está. E não adianta acharmos que tudo está resolvido porque existem leis.
A lei Maria da Penha não vai impedir que as mulheres sejam espancadas.
As leis que proíbem a discriminação em razão de raça, gênero ou orientação sexual não vão impedir que negros, negras, gays, lésbicas e mulheres fiquem mais em baixo na escada social, que apanhem, que sofram maus tratos, violências físicas e psicológicas.
Assim como a lei que proíbe o aborto não impede que as mulheres o pratiquem, de maneira perigosa e, frequentemente, prejudicial à saúde.
Tem algo profundamente errado em tudo isso. Um tsunami, uma onda de ódio, disfarçada de hipocrisia, é o que se vê todo dia cobrindo de lama as vidas dessas pessoas.
Nã me interessa se a moral cristã é hetero-dirigida. Nos ditos valores cristãos não existe mais qualquer forma de pietas, só existe ódio, medo, castigo que não é sequer ministrado por algum Deus impiedoso, colocado lá em cima mas, sim, por homúnculos arrogantes e infelizes, que se dizem portadores de valores morais. Com cantava Zélia Duncan, os imoráis falam por nós.
Olhamos para o mundo muçulmano com terror, julgando que se trata de uma maré de selvagens, e uma das razões de nossos medos "civilizadores" decorre do tratamento reservado às mulheres.
Todavia, começa a surgir uma dúvida cruel em minha cabeça: não será que, na verdade, todo o espernear ocidental contra "os mouros" decorre do medo de não poder dispor mais de corpos desnudados, de mulheres "bundas & tetas" disponíveis para fantasias que nos despojam de qualquer qualidade humana, de qualquer vivência?
Vivo recolhendo testemunhas de mulheres que perdem o emprego porque não se colocam a disposição de seus chefinhos enquanto bocas e outras cavidades.
Vivo ouvindo afirmações que denigrem tudo que as mulheres fazem, reduzindo-as a pedaços de carne.
Quando não perfumam mais a juventude, as mulheres baixam a cabeça, na humiliação de não ter como pagar suas contas, com parceiros que, em troca de planos de saúde e de um teto, as tratam feitas coisas, as insultam, as abusam.
Quando não são disponíveis aos abusos morais, quando são insubmissas, passam a ser ofendidas, desprezadas, insultadas. E tudo isso, no silêncio da cumplicidade de homens que, no fundo, compartilham da visão.
E de mulheres que, apavoradas pelo constante repetir-se da impunidade, cada vez menos se sentem seguras para tomar uma postura diferente. Melhor ficar caladas, pois as próximas podem ser elas.
Não é mais nem uma sociedade patriarcal, pois nessa às mulheres se confia um papel de submissão mas, ainda assim, quando elas nesse papel se "encaixam", de respeito.
Não, estamos muito além de qualquer patriarcalismo. Estamos em uma pseudoliberdade, onde o mais forte manda, explora, maltrata, insulta, arruina vidas, impede a livre expressão e, PRINCIPALMENTE, que uma mulher possa ganhar HONESTAMENTE seu pão de todo dia. Qualquer lição de tolerância é esquecida, em Black Stream, mas não somente aqui, é regular tomar qualquer liberdade sobre a vida e os corpos das mulheres, pois a impunidade é praticamente garantida, pois na alegre confraria do "clube do bolinha" se tem consciência de que a maioria estará do lado do macho, e no limitado "clube da luluzinha" a preocupação de perder casa/trabalho/RESPEITO amordaça e deixa tudo como está... E tudo se resolve em piadas de mau gosto e na desigualdade mais profunda e injusta que, na história, nem a Idade Média mais estereotipada jamais alcançou...
É tudo verdadeiro. A realidade ultrapassa qualquer imaginação.

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