quarta-feira, 16 de novembro de 2011

BRUNA SURFISTINHA? ADOREI, PARABÉNS PARA ELA!


Assisti ao filme. E fiquei me perguntando: como é que alguém pode ter considerado esse filme "excitante"? Eu achei um filme de uma tristeza única.
Li o livro também. Não é uma obra prima da literatura, está mal escrito. Mas é uma coisa rara de se encontrar, ainda hoje: é um romance de formação, escrito por uma mulher com visões diferente das minhas, com certeza.
O romance de formação é um verdadeiro gênero literário, que contempla, principalmente, o universo masculino. Os "heróis" são garotos que descobrem o mundo e se tornam adultos através de experiências duras e difíceis. Poucas, pouquíssimas mulheres escreveram e escrevem romances de formação. Principalmente porque teriam que falar de coisas que, mesmo não chegando aos abismos de abjeção física e moral da Bruna, não seriam muito bem vistas.
Por outro lado, livros com protagonistas prostitutas não são, na verdade, nenhuma novidade. É só pensar na famosa Moll Flanders, de Daniel Defoe (um homem). Ou em Naná, de Zola, também um homem.
No máximo, autores que usufruíram dos serviços.
Essa última, Naná, protagonista do homônimo romance, é uma Bruna Surfistinha do século XIX. Acontece, porém, que o fato do autor ser um homem, não é particular secundário: a protagonista morre no final, deturpada pela varíola. Na verdade, quem inspirou o Zola foi uma "mulher de programa" de verdade, uma tal de Valtesse de la Bigne, que exerceu a profissão por muitos anos, guardou um dinheiro e, quando se aposentou, comprou um palacete em Paris, onde viveu felizmente até o final da vida. Um dia, Valtesse encontrou uma jovem prostituta, na rua, tal Liane de Pougy, moça muito bonita, casada, que fugiu do marido. Valtesse a "criou" para deixar a sarjeta e "praticar" nos meios mais abastados da finança e da cultura parisienses. Foi uma Bruna Surfistinha da sua época, tão conhecida que suas fotos eram vendidas como cartões postais das beldades de Paris. A mulher era culta e bem relacionada e, quando chegou aos quarenta, se retirou da profissão e casou com um príncipe romeno. Nenhuma das duas, nem Valtesse nem Liane, morreram sozinhas e abandonadas. Liane conhecia, entre outros, Marcel Proust, que nela se inspirou para delinear uma de suas figuras mais conhecidas da Recherche, Odile de Crecy...
Agora, estamos no século XXI. A profissão mais antiga do mundo (depois da dona de casa) continua existindo, pouco mudada ao longo dos milênios.
Bruna Surfistinha é uma descendente dessas figuras, atualizando-as aos nossos tempos.
Como Valtesse, como Liane, Bruna também apostou suas fichas em algo mais do que somente fazer programas. Escreveu um livro, vendeu os direitos, e, se fosse por mim, não estaria atrás de muitos que ocupam a Academia Brasileira de Letras, pois ela, pelo menos, escreveu e foi lida por muitos mais do que, por exemplo, um Sarney ou um Pitanguy, que na Academia ocupam cadeiras (será que vale como escrita, a cirurgia plástica??? e será que os poemas do Sarney são MUITO melhores do que o livro da Bruna????).
Pelo menos, a menina fez de toda sua vida algo que provocou controvérsias... que é mais do que outros membros da academia fizeram com suas obras!!!
E quanto ao estilo... sinceramente, não é pior do que o do Paulo Coelho, que escreve mal, mas que está na Academia...

Nenhum comentário:

Postar um comentário