quinta-feira, 10 de novembro de 2011

40 não significa dois de 20!!!

Idade não é uma questão de aritmética, de somas, subtrações.
Uma mulher de quarenta anos não vale, simplesmente, duas de vinte. Mulheres habilidosas, cuja riqueza de experiência adquirida ao longo de quatro décadas de vida, são substituídas, no mundo do trabalho, por lindas, LINDÍSSIMAS garotas de vinte. Somente porque os donos das empresas babam. Ou, pior ainda, porque profissionalidade, capacidades, habilidades das mulheres de quarenta valem zero, nessa matemática, quando a aparência vale 100. Porque vivemos na ditadura do corpo. Porque as mulheres continuam a ser somente isso.
Como sempre, não vale o mesmo para os homens. Muito pelo contrário: homens grisalhos inspiram confiança. Assim, uma amiga querida é despedida sem qualquer justificativa, despachada porque não satisfaz os sonhos babões de algum macho no cio. Porque é trabalhadora, séria, mas já tem quarenta anos. Não estou brincando, aqui precisa mesmo de uma reflexão sobre o que acontece no século XXI.
Deixem-me, então, narrar a vocês porque o Brasil é, sim, um país injusto, um país em que "puxa mais um pentelho que uma parelha de bois".
Estamos em Black Stream, bisonha localidade de clima insuportável, dentro do estado mais "desenvolvido" do país. Há uma empresa, da qual poderia fazer o nome, mas não farei, porque uma vale a outra. Vamos dizer que se trata de uma concessionária que vende carros bem caros, daqueles que se adquirem mais para revelar o status do que por necessidade. Minha amiga é contratada para vender esse produto, na base de um curriculum profissional que revela uma trajetória de seriedade, quase vinte anos de trabalho durante os quais obteve reconhecimentos como melhor vendedora. Para ser contratada, precisa montar uma apresentação sobre um dos produtos. Começa, assim, a trabalhar na empresa. No primeiro dia, ela é apresentada à equipe. O gerente faz questão de realçar o valor PROFISSIONAL de cada membro. Sublinha a seriedade e a competência de cada um, inclusive dela. Sublinha, TAMBÉM, que ele não está interessado em "rostinhos bonitos" (do qual, diga-se de passagem, minha amiga é dotada), mas em resultados, isso é: VENDAS. Enfim, tudo parece se encaminhar da maneira mais séria, concreta, profissional. O primeiro mês, minha amiga não é colocada diretamente nas vendas, pois precisa "aprender". Passa, assim, por uma fase do treinamento. Ainda assim, vende. No segundo mês, apesar de novos impostos que gravam sobre os produtos, vende. Na média de venda da equipe inteira. Aí, começa o terceiro mês. O gerente coloca, para ela, uma meta de vendas, que ela terá que cumprir até o FINAL do mês. Já na primeira semana, cumpre com um terço da meta.
Porém. Porém.
No entanto, algo acontece. Um dia, chega um conhecido dela, para conversar com o gerente. Na frente dela, o ELEMENTO pergunta sobre o desempenho dela. O gerente responde que está começando, que está tudo bem. Sempre na frente dela, o ELEMENTO (que, repito, não é nenhum amigo, é um conhecido), afirma que ele TEM (perceber, por favor, o verbo de POSSE, está falando em mercadoria...) uma verdadeira mulher para a empresa, uma moça belíssima que deveria trabalhar na empresa. Minha amiga, a essa altura, levanta e sai da sala.
A conversa acaba e o gerente encerra o dia com uma pergunta para minha amiga: "Você é homem ou é mulher?"
Intervalo. Publicidade.
Segunda parte.
Minha amiga volta ao trabalho depois do final de semana. Como disse, é começo de mês e já cumpriu com um terço da meta pedida. Na segunda feira, o gerente resolve perguntar aos funcionários, todos, fora ela, se acreditam em papai Noel.
Suspense.
Na terça feira, logo depois de realizar mais uma venda, minha amiga é chamada e, sem qualquer explicação, recebe uma carta de demissão. É mandada embora. Sem explicação.
O melhor.
A explicação chega: uma linda jovem. As mulheres da limpeza vão ter que trabalhar em dobro, para limpar a baba dos machos da empresa. É uma babação absoluta.
Mas minha amiga é demitida. Sem mais. Sem menos.
A coisa é tão repentina, que no RH até escreveram a carta com um sem número de erros.
É tão repentina que chega o pedido mais ABSURDO que funcionário já recebeu: "como ninguém estava preparado para suas demissões, você poderia adiantar as verbas recisórias, que depois a empresa te reembolsa?". Pedido ao qual, evidentemente, minha amiga se nega.
No dia seguinte, ela vai recuperar suas coisas, e descobre que:
a) A moça MARAVILHOSA não passou nem por entrevista, nem por qualquer tipo de apresentação.
b) O dono da empresa, que assinou sua carta de demissão, está tão deslumbrado com o corpo novinho a sua disposição, que chegou a levar de pessoa a moça MARAVILHOSA para o exame médico.
c) A moça MARAVILHOSA não tem nem que esperar um treinamento, nem o uniforme, já começa a ser "disponibilizada" aos clientes...
Para a minha amiga só posso dizer: bem vinda aos quarenta.
Para as outras mulheres que trabalham na empresa, só posso dizer: cuidem-se, pois o próximo rostinho bonito que passar por aí (assim que o novo método de contratação se espalhar, vai ter fila) é o trabalho de vocês que vai para o brejo.
Para o gerente, só posso dizer: e agora, o que você vai fazer, quando apresentar a equipe? Realçar as qualidades profissionais de QUEM?
E, finalmente, para o dono, GOSTARIA de dizer: há uma visão popular, de onde eu venho, que diz que quando prostituta se "aposenta" abre salão de cabeleireiro, quando cafajeste se aposenta abre concessionária... O senhor acabou de demonstrar que essa visão é pra lá de verdadeira.
Ainda.
Gostaria de dizer que tudo isso demonstra a desqualificação das mulheres, novamente reduzidas a "rostinhos bonitos", a "corpos desejáveis", e que descanse em paz a competência, a profissionalidade e a experiência.
De quem é a culpa?
A culpa, sinto dizer, não é dos machos, dos cafajestes, da incapacidade dos homens em governar seus hormônios (o que os coloca realmente no nível dos animais bem pouco racionais).
A culpa, sinto dizer, é NOSSA. Das mulheres. Que não sabemos dizer BASTA às regras dos machos no cio.
PRINCIPALMENTE: a culpa é nossa, porque não podemos ter eternamente vinte anos.
Essa é uma empresária de verdade.













Esse é o sonho masculino de quem deveria trabalhar...

3 comentários:

  1. :S depois de ler seu texto...percebo o quanto a vida consegue ser desmotivante. E que não adiantam esforços, a vida sempre volta ao que era antes, injusta.

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  2. Não acredito que a vida seja injusta. Existe uma diferença entre justiça e responsabilidade. E a pergunta emerge: O que acontecerá com a bela moça de vinte, hoje, contratada, se é claro, ela não se casar com a conta bancária de algum cafajeste? No meu olhar é uma questão de arcar com as escolhas que nos submetemos. Quantas mulheres de 40, hj, não se beneficiaram aos 20? O ciclo tem que ser interrompido.

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