sexta-feira, 9 de outubro de 2009

FOLHETIM: JOGOS INSENSATOS (cap.3)


E começa um jogo que B não sabe se e quanto sabe jogar, é como pisar em areias movediças e é notório que areias movediças não são gelatina colorida para crianças.

B senta na frente de A, sobre um banquinho baixo, as pernas abertas, e começa a provocá-la, perguntando o que ela quer.

Errado.

Não é assim que A quer que B jogue. Então, A intima B para tirar a roupa. Não a toca. Sentada, só a olha. B está nua na frente de A, nua e crua como a verdade, sem disfarce algum, e quer baixar seus olhos. Mas já não é tempo para pudores, falsos ou verdadeiros que sejam. Escolher brincadeiras assim impõe uma manutenção pouco comum das emoções. Será B uma trepidante donzela desamparada? Não, jamais! B resolve bancar a mulher vivida e sem vergonha. A olha para B, em silêncio, bebendo mais um pouco de vinho, depois a leva para o quarto. Explicando que agora vai amarra-la. Vai amarra-la e tampar sua boca. B vai ficar em seu poder. Não conseguirá se soltar, não conseguirá falar. Enfim, tudo bem, já que estão nesse ponto, continuam em frente, certo? B confessa a si mesma que não, não se sente particularmente excitada, está mais é curiosa. Em silêncio, A pesca de alguma gaveta um emaranhado de cordas. Aos olhos de B, parecem quilômetros de cordas. Muitas cordas mesmo. B começa a pensar que vai ficar que nem um roast-beef inglês, com todas essas cordas. Claro, pensa B, e depois vai me temperar e por no forno. B já não consegue mais levar o evento muito a sério. Sua bagagem literária refreia uma risada. Na verdade, B não sabe muito bem até que ponto A se dedique realmente a essa estranhas práticas ditas sadomasô. B considera que não deve ser muito experiente. A tal de experiência literária avisa B que se encontra no meio de uma brincadeira decadente, e não em um romance erótico do século XVIII. Enquanto isso, A já a prendeu, e B não consegue se mexer. Nem falar. Nem se desamarrar. A levanta, diz que está com sede, e deixa B deitada, sozinha debaixo de uma luz bem pouco aconchegante. Volta e começa a acaricia-la. B se sente estúpida. Por traz de tanta cenografia, olha o que encontrou: um sexo baunilha da pior espécie! B fica parada, nem saberia como reagir, ainda bem que está amordaçada, assim a risada não pode sair, ainda que tudo isso não passe de uma grande bobagem, não há razão para ofender A em seus gostos e preferências. Que, definitivamente, não são os de B.

Sexo baunilha com uma mulher amarrada desse jeito, fala sério! Vai ver algo transparece do olhar de B, de sua postura. Não demora muito, A também desiste. Começa a desamarrar B, os olhos baixos, um incômodo evidente nas palavras que saem de sua boca, meio atropeladas. Escuta, diz A, acho que não vai dar certo. Acho, diz, que é melhor deixar pra lá, você é uma mulher inteligente, e é melhor ficar por isso mesmo. B levanta, se veste e, em cinco minutos, já está do outro lado da porta, rumo ao carro dela.

Enquanto dirige, aliviada, para casa, B pensa na ingenuidade desse mundo, na ingenuidade de A, na curiosidade mais que satisfeita.

Pensa naquela tatuagem com o nome de C, marcando para sempre aquele braço e começa a rir, a rir, sozinha, noite adentro.

THE END!

Um comentário:

  1. Muito interessante!
    Acho que você deveria mesmo escrever
    um livro de contos!
    Eu, com certeza, iria comprar! rsrs...
    Bjuss!

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