terça-feira, 6 de outubro de 2009

FOLHETIM: JOGOS INSENSATOS (cap.2)


Meia hora depois estão no lugar de A, um apartamento aconchegante. B, sentada no carpete, sinal de disponibilidade e submissão: está mais embaixo. A se senta no sofá, descalça.

A, safada, saca espelhinho, cartão de crédito, enrola uma nota de dez e mostra que tem nariz poderoso com o tempero. O aplomb de B é total, enquanto aguarda sua vez. O papo flui legal, livros, filmes, tudo que permite driblar os pedregulhos das intimidades, desagradáveis percalços no caminho da diversão.

Duas taças de vinho depois, doze litros de água depois, destemperando os resultados das atividades das membranas olfativas na fumaça downer de um matinho fragrante e perfumado, A encara B de frente.

Diz, faz tempo que quero te perguntar: topa um sexo sadomasô comigo? Sabe, penso nisso quando estou com C e quando estou sozinha, e estou cansada de pensar. Quero saber como seria com alguém como você

B consegue manter o rosto imperturbável. Como se todos os dias enfrentasse situações do gênero. Sim, claro, pensa B, levanto toda manhã, sabendo que vou encontrar meninas que vão me perguntar: hei, você, topa um sexo sadomasô?

Hã.

Claro. E o que, exatamente, significa: “alguém como você”? Como assim, como ela?

Claro o cacete, há muito nem sequer B recebe propostas de beijo na boca, que sexo sadomasô que nada! Quero dizer: não é a proposta que provoca um bloqueio à altura do diafragma, que se não tomar cuidado, B engasga e cai, fulminada, mas disfarça com o mesmo aplomb acima citado.

Até parece, que B é ingênua, quando vê uma moça cheia de piercings e tatuagens. O problema do susto é, com efeito, a tatuagem com o nome de C no braço. Por que cargas de água, se pergunta B, alguém que tatua o nome da namorada no braço vem me fazer uma proposta dessa?

Melhor não perguntar, evitando, assim, o risco de respostas indesejadas.

B sorri um sorriso de serial killer e enfia a cara na taça de vinho, ganhando tempo.

Oh, dúvida cruel! Topar e poder ficar com A, essa mulher maravilhosa em uma situação escabrosa, ou se negar e ficar só com água na boca? A carne é fraca, bem se sabe, e é fundamentalmente verdadeira aquela frase da sábia amiga D, que diz que “puxa mais um pentelho do que uma parelha de bois”.

B muda para um sorriso que espera sedutor, e fala com sua melhor voz roca que: sim, claro que topa.

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