sábado, 3 de outubro de 2009

FOLHETIM: JOGOS INSENSATOS (cap.1)

INTRODUÇÃO:

A ficção, mais uma vez, me espanta & me encanta.

Escrevi mais um conto, e testei se funcionava, literariamente falando, propondo sua leitura a várias pessoas amigas.

Mais uma vez, a FdP recebeu perguntas desnecessárias (já que avisei tratar-se de um conto, de ficção pura e simples, de invenção, de produto de fantasia) sobre o quanto constava de verdadeiro nele.

Resultado: estou preocupada com o que será de minha reputação “publicando” essa INVENÇÃO no Blog.

Por outro lado, porém, declaro-me muito satisfeita em perceber o poder de VERACIDADE de meus impulsos literários: com efeito, a curiosidade um pouco “perversa” das perguntas recebidas me faz pensar que não está mal escrito, se todos os leitores, até agora, ficaram na dúvida sobre alguém realmente ter vivido essa historinha...

Gente, é sério, nada de pensar que um conto, que nem chega a ser erótico, seja mais verdadeiro do que, sei lá, “O senhor dos anéis”, em que todos os machos se matam para botar um dedo no anel (no filme todos têm mãos sujas e unhas quebradas... Nojentinhos...), somente porque ambientado em lugares que poderiam ser nossas casas ou porque algumas situações são plausíveis...

FUI CLARA? Fiction is fiction, e não aceito censuras, pois

QUANDO EU CRESCER, SEREI UMA ESCRITORA CAPAZ DE VIVER DE SUA ESCRITA!

CONFESSO: Um pouco fiquei brava, com essa “abordagem” de leitores querendo saber quem é quem e quem fez o que... se esse conto estivesse em um livro com escrito na capa “contos” ninguém ficaria me atazanando...

JOGOS INSENSATOS (cap. 1)

Eu gosto, disse A, de torta quente de maçã com sorvete.

Eu não, respondeu B. Gosto deles separados: torta de maçã de um lado, e sundae do outro.

Por que separados? Pergunta A.

Para que desenvolvam ao máximo suas potencialidades antes de se juntarem em mim, responde B.

A ama C. B se finge solidária, bancando a cruel. Mesmo porque parece tudo uma grande brincadeirinha. B faz santinhos, rezando pelas palavras abandonadas e os livros abandonados. Reza para que C não caiba no dia nem na noite de A.

B está entre a Maga Patológica e Cassandra, a Infausta, enquanto dispensa conselhos sentimentais baratos e oferece seu ombro desnudo para as lagrimas de crocodilo que despontam nos olhos de A. Finge ficar fora do caminho, com a evidente má vontade de quem não tem a menor intenção de ficar de fora do caminho. De regra, B não gosta de mexer com quem se apresenta “em forma de casal”. Mas A está dando um mole danado para B, e B está em abstinência há um tempão. Não é que, pelo fato de trabalhar com as palavras, arranjando-as para ganhar seu pão, a carne de B tenha sumido. As palavras são, para B, tudo. O que seria de B, sem palavras? O alfabeto é uma máquina com menos de trinta sons que, combinados, compreendem o universo inteiro e determinam sua existência.

Se B pudesse esbanjar tempo e riqueza...

Provavelmente seria um macho alfa.

Porém, B não tem riqueza. Porém, B não perde seu tempo.

B é uma mulher pragmática, mas ainda vive sua vida como se o que faz pudesse sobreviver ao dia em que foi feito. Bobagem. “Esse pensamento se auto destruirá em trinta segundos”.

B faz pelo menos três coisas ao mesmo tempo: olha para A; levanta seu copo de cerveja; considera como sua vida ande se esgarçando, tornando visíveis trama e urdido.

B se sente síntese, santa encenação das indesejadas felizes de sê-los. Das que brincam sozinhas e acompanhadas, mas sempre brincam com seriedade e afinco.

B gostaria de organizar uma procissão com velas, cantos e musicas desafinadas e incompletas. B está sujeita a ser excomungada, processada, castigada. Sabe que deve se policiar, pois está com vontade de gargalhar em voz alta, sentar de pernas abertas em público e comer, falando alto e xingando sem vergonha, invocando as piores divindades com oferendas de álcool, drogas e diversão.

Eis a pergunta que se cala, quando, subindo do plexo solar esbarra no paladar de B: Por que você, A, está aqui, sentada comigo, falando da outra que te traiu?

Escuta, diz A, está a fim de temperar a noite?

Por que não, responde B, gosto de temperos e especiarias.

Então, vamos para a minha casa, propõe A. Tenho temperos gostosos.

Que tal pararmos para comprar um vinho? Sugere B.

(To be continued...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário