sexta-feira, 1 de junho de 2012

HISTÓRIAS (COM FOFOCAS) DE QUALIDADE GLBT


Outro dia, percebi, mais uma vez, que muitas pessoas precisam se informar sobre temas "quentes" na pauta da política global: a questão GLBT. Vejo isso como algo estranho: hoje o Papa está em Milão, para "celebrar a família", justo na cidade cujo prefeito está trabalhando para conceder o direito à União Civil; o Serra, no estado de Capital City, para vencer com o apoio da bancada cato-evengélica, se declara absolutamente contrário ao reconhecimento dos direitos GLBT. Há anos venho "construindo" um capital bibliográfico pessoal sobre a história, a literatura e a teoria GLBT, e me parece interessante começar a compartilhar essas informações com quem quer assuntos e argumentos culturalmente "diferentes". Os últimos livro que comprei foram um ensaio e uma biografia.
O ensaio é em espanhol (ou no original italiano), se chama Gay - la identidad homosexual de Platón a Marlene Dietrich, e o autor é Paolo Zanotti. A editora é o Fundo de cultura econômica, o ano da edição que tenho é 2010.
É um livro que recupera a representação GL através de suas personagens e suas "letras". É ótimo para saber quem era e quem não era, como se via, como mostrava e como era visto. É muito agradável, uma forma de fazer "fofocas intelectualizadas" sobre grandes personalidades GLBT na realidade, na literatura e no cinema. Um dos méritos do livro é de contemplar também as mulheres, mérito que, ao mesmo tempo, é também seu limite: o autor é um gay, então desconhece muito sobre as mulheres! Ainda assim, dentro do que pode ser encontrado por aí, já ajuda. No resto, eu tenho algumas sugestão para ampliar essa parte. Por exemplo, existe por aí uma biografia sobre Liane de Pougy, muito agradável de se ler, do qual não lembro nem autor, nem título, sorry. 

Mas, quem era Liane de Pougy?  Uma figuraça da Belle Epoque em Paris. Nascida no final do século XIX, essa mulher de rara beleza casou, mas logo resolveu que aquilo não era para ela. Fugiu para Paris e começou a se prostituir nas ruas. Teve muita, muita sorte, pois se deparou com uma talent scout, uma ex-prostituta, já senhora, que agora exercia como cafetina de luxo. Reconhecendo o talento de Liane, a levou para "outras esferas": Liane se tornou acompanhante dos grãos finos, atuando também no teatro de revista, não muito vestida. Na época, o rosto de Liane era postal de Paris. Ela teve uma grande rival, outra beleza do tempo, a Bela Otero. Bom, Liane frequentava grandes banqueiros e capitalistas, mas também artistas e escritores. 
Antes de seguir com a história de Liane, um parêntesis: a cafetina, cujo nome nesse momento me foge, desculpem, também é uma figura interessante. Fez carreira no mundo do sexo a pagamento, frequentando também essas personalidades tão variadas. Não podemos esquecer que as mulheres proletárias ou burguesas da época não tinham assim um acesso muito fácil ao mundo artístico e intelectual e a "marginalidade" da prostituição de luxo permitia que elas tivessem contato com a alta finança e a cultura avant-garde do tempo. Isso tem a ver com a diferença de inserção social das mulheres... Bom, a senhora era conhecida de Emile Zola, que a utilizou como modelo para sua personagem Naná. Essa senhora, chegada a hora de se aposentar após uma vida de trabalho e de poupança comprou um casarão em uma avenida parisiense e gozou de boa vida até o final. Vez ou outra voltava à ativa, apesar da idade, "para não perder o treinamento", dizia. Zola, que é um homem no fundo um pouco moralista, desenha para Naná uma trajetória com um final diferente, pois a mata de varíola, deturpando o rosto e o corpo que foram a fortuna da moça. No romance Naná tem uma cena lésbica precursora de certas imagens eróticas para os olhos do mundo heterossexual, mas ao mesmo tempo  vale conferir: Naná "faz coisas" com a amiga inglesa sobre um sofá, enquanto os potenciais clientes conversam e observam ao lado. Essa referência falta no livro de Zanotti, assim como falta a Liane, e já volto a ela e explico porque.
Liane, então frequenta o belo mundo, é "mundana" de verdade. É conhecida de Proust, e seu destino um pouco recalca o de sua antiga cafetina, pois ele (gay a não poder mais) molda em Liane, de maneira um pouco misógina, os traços de sua personagem leve/ leviana, Odette de Crecy. 
                                                 Liane de Pougy e Nathalie Clifford Barney


No entanto, em Paris, reside Nathalie Clifford Barney, uma rica lésbica americana de muitos amores. Sabendo da fama e da beleza de Liane, Nathalie a convida para sua mansão e a coisa acaba com as duas juntas por um bom tempo. Depois se deixam, Nathalie terá um longo relacionamento com outra figura de destaque na Paris da época, Renée Vivien, enquanto Liane, chegada aos quarenta, se retira da profissão e garante seu futuro casando com um príncipe gay romeno. Uma história e tanto, que não merecia ser esquecida...
O outro livro que encontrei recentemente é Flores raras e banalíssimas A história de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop, deCarmen L. Oliveira, publicado pela Rocco, se não me engano em 20122. O livro conta não somente o relacionamento entre as duas, mas também revela a vida extraordinária e desconhecida de Lota, envolvida com a fina flor intelectual e artística brasileira.
Tenho mais duas sugestões literárias e cinematográficas, mas só amanhã, que hoje preciso trabalhar!

Um comentário:

  1. Inclusive a história da Lota e da Rlizabeth vai virar filme.

    Esperando as outras sugestões de filmes e livros (principalmente).

    Abraços.

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