terça-feira, 11 de outubro de 2011

LITERATURA DE VIAGEM SEXUADA


(FOTOS: Annemarie Schwarzenbach
e Vita Sackville-West)

Há pouca literatura de viagem produzida por mulheres. Para falar a verdade, quem me vem à cabeça é Vita Sackville-West (que não escreve exatamente crônicas, mas uma literatura que está entre memória e romance). Também me lembro de outra autora, essa bem menos conhecida, Annemarie Schwarzenbach, que relata suas viagens tanto para o oriente (genial, descobrir o Afeganistão da primeira metade do século XX pelas palavras de uma mulher...), como para os EUA (durante a Depressão).
Claro, há outras, mas muito menos conhecidas do que, sei lá, um Bruce Chatwin da vida. Quero dizer, não há comparação entre o número de relatos de viajantes masculinos, que criam um corpus literário de outra espessura. Virgínia Woolf, em seu já batido ensaio A room of her own coloca a limitação imposta às mulheres, que raramente tinham (têm???) um espaço próprio dentro do lar, onde possam pensar e escrever a salvo das interferências familiares e domésticas. Quero, aqui, realçar a outra limitação: a do acesso ao espaço externo, da possibilidade de "andar" pelo mundo, seja nas ruas da cidade como nas estradas das possibilidades das viagens, das possibilidades que a história, com afinco e sistematicamente, lhes negou.
Falo no passado, mas tenho a sensação de que essas limitações continuam, e muito, ainda nos dias de hoje.
Pensem nos inúmeros espaços e lugares onde, ainda hoje, as mulheres não têm direito de trânsito, onde somente os homens pisam.
Boa parte do mundo continua rejeitando até a simples hipótese de mulheres em movimento sozinhas, sem a "tutela", a "autorização" e a "companhia" de pais, irmãos, filhos ou maridos.
Elas são proibidas no acesso a espaços públicos e religiosos em um sem números de lugares do mundo. Também, lá onde as interdições religiosas aparentam ter desaparecido (e é coisa mais recente do que se imagina...), não é raro que uma mulher sozinha, em veste de viajante, se encontre em situações constrangedoras, quando não até de perigo.
Se no "interior" temos pouco espaço, no "exterior" também, o que nos sobra, a não ser o não lugar onde a definição do que somos não tem cidadania, a não ser, mais uma vez, pelas palavras e os olhares do masculino?
Por isso achei tristemente irreal o final do último filme de Alice no País das Maravilhas... uma mulher que viaja sozinha? Somente nos sonhos!

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