terça-feira, 4 de outubro de 2011

FEMINISMO & FEMINISMOS



Black Stream é mais um lugar onde pertencer ao sexo feminino já cria desvantagens. Não vamos fingir que uma cidade provinciana do interior represente uma vanguarda nos costumes & nos hábitos das relações de gênero.
Viver no meio de posturas machistas é uma experiência que, em maior ou menor grau, todas as mulheres vivenciam. Machismo é algo que pode ser grosseiramente expresso ou adquirir tonalidades mais sutis, portanto mais difíceis de se enfrentar. O leque da expressão "soft" machista, daquele macho, para ser clara, que gosta de se declarar "não machista", se abre com as piadas sobre as loiras, seguidas com as piadas sobre as feministas quando não demonstramos particular agrado pelas piadas sobre as loiras. Seguem tratamentos que oscilam entre prestar uma atenção distraída ao que se fala, com respostas paternalistas e, em geral, esses machos autoafirmados como "não machistas", te olham e te escutam como se sempre estivessem um degrau acima: sempre com uma certa condescendência. Em geral, demonstram interesse nas tuas palavras somente se neles há alguma forma tesão sexual. Tua cabeça é avaliada como inversamente proporcional ao tamanho da bunda, o fetiche "grande" dos brasileiros.
De tanto passar por isso, se acaba adquirindo uma doença muito comum e infecto contagiosa, a "síndrome de gênero": a eterna incerteza, o eterno ficar na fronteira entre aceitar que você é um modelo e se retrair como "uma boa mulher faz", cedendo o passo aos homens, ficando atrás de
suas figuras... assim, mulheres de destaque, de liderança, habilidades que você, às vezes, parece olhar com perplexidade, como se essas qualidades não lhe pertencessem, acabam sempre em segundo lugar. O problema é que quando damos peso aos chiliques de homens de TPM ou quando cedemos à arrogância de quem se acha poderoso, especialmente perante mulheres, único poder que lhes é dado por uma idéia errada de "natureza" dos gêneros, que vêem como menos poderosas, acabamos nos "reduzindo". Ainda mais se não somos jovens, atraentes e simpáticas. Somente mulheres comuns capazes de pensar não somente nos trilhos daquilo que toda mulher pensa desde criança, mas também naqueles territórios que pertencem à tradição e à linguagem masculina, como a ciência ou a política.
Sempre me é difícil digerir que mulheres capazes, ativas,inteligentes e habilidosas, que já obtiveram reconhecimentos pelas suas atividades acabem deixando papeis de relevância nas mãos dos machos. Que, regularmente, se consideram à altura, e se reconhecem entre si nesse papel. Poucas e importantes são aquelas mulheres que conseguem se salvar de rótulos estereótipos ligados ao feminino. Por isso que gosto da Dilma, diga-se de passagem...

É necessário que haja uma mudança de atitude perante as mulheres jovens que buscam se espelhar, encontrar e reelaborar modelos femininos. Seria interessante que se encontrassem enfrentando o desafio de se tornar mulheres fortes, empoderadas (empowered) e que apresentam resultados de maneira tal que ninguém ousasse mais olha-las com uma certa perplexidade, ponderando quem foi o homem que as colocou lá. Sempre de passagem, diga-se que a Dilma não escapou disso... aqueles que não a queriam, a atacaram alegando que atrás dela havia a figura do Lula. Claro que sim... como atrás do Serra havia o FHC na época de sua disputa contra o próprio Lula... E que eu lembre, não pareceu tão estranho! Enfim, quando se coloca o Lula "atrás" da Dilma, se entende que ela não tem vontade própria e que ela será mera executora das vontades do Lula. Por sorte, a Dilma é, definitivamente, outra coisa respeito à essa idéia. Quer se goste ou não da política atual. Ela deve tornar-se uma figura de referência, um modelo com o qual confrontar-se.

Em uma certa medida devemos nos perguntar como desenvolver esse modelo. Aliás, em termos de "teorias de gênero", essa questão de modelo feminino que abre e mostra caminhos às outras é fundamental, porque raro e marcado por dificuldades, dúvidas e, também, os erros de quem pisa em territórios que nem sempre reconhecem nossas habilidades ou, até, nosso direito de sermos "ambiciosas". Precisamos procurar e nos tornar poderosas "mães simbólicas" para aprendermos!!

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