quinta-feira, 5 de agosto de 2010

DIÁRIOS DE VIAGEM II

28/07/2010 No avião. h. 15.05
O pesadelo da última hora me encontrou. Estava eu tranquila, fazendo a fila para embarcar, quando um bando de italianos berrantes me cercou. A média da idade: acima dos 80. Todos beatos e abençoados por alguma peregrinação religiosa (Fátima, com certeza...). Todos, como disse, beatamente berrando. Todos, sem exceção nenhuma, nessa beatitude complexa que é a fé popular, reclamando. Reclamando porque
- o avião não podia ser alcançado a pé, mas precisou pegar aquele ônibus de transporte interno do aeroporto
- o calor, ahiahiahiahi! o calor do verão! (mas para os beatos, isso não deveria ser algo divino????)
- A espera dentro do ônibus chegou aos 10 (DEZ!) minutos, onde já se viu? (como se a Itália fosse o lugar da eficiência, FALASSSÉRIO!)
TODOS, como um bando de ovelhas sem rumo, com um pastor cabisbaixo, padre silencioso e abatido (péssima liderança pastoral, em todos os sentidos, tsé...).
No meio desse pesadelo de última hora, dois mini-pesadelos assinados "Europa do século XXI":
1) No controle do cartão de embarque, duas pessoas foram paradas e colocadas de lado, e pelo que vi não conseguiram embarcar. Duas pessoas negras. Uma, eu vi, tinha passaporte italiano. Pelo jeito, de nada valeu. Oh, racismo, filho do medo, filho da p..a! Antes, tinha visto, no controle de raios X das malas, que o único que teve que parar e abrir suas coisas fora um passageiro também negro.
2) Segundo mini-pesadelo: enquanto esperávamos para descer do ônibus, um moleque começou a passar mal. Isso, fora o estado lastimável do coitado, ao qual vai toda minha simpatia e solidariedade, seria o de menos... Foram os renovados berros dos beatos, a parte pior. Gritos que ficaram ecoando no pequeno espaço do ônibus, em tons de briga, contra o pobre motorista que, no estado de sítio constante em que se colocam os aeroportos, não pode abrir as portas até ser autorizado. Beatos os que sempre querem tudo & agora, beatos os que sempre levam tudo como uma ofensa pessoal, beatos os pobres, muito pobres de espíritos, que os torna impacientes na vida... Um pensamento molesto toma conta de mim:
será que eu também sou assim???? Eu não quero ser assim... Faço minha "promessa de avião": vou me esforçar para não ser assim...

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