segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ANHANGUERA MON AMOUR: É PARAÍBA!

Há pouca literatura de viagem escrita por mulheres. Para falar a verdade, só me vêm à cabeça dois nomes, o de Vita Sackville-West, quando conta de sua viagem e estadia na Pérsia (que não escreve exatamente crônicas de viagem, é um relato um pouco romanceado) e o de Annemarie Schwartzenbach, uma viajante suiça da década de 1930, amiga dos filhos de Thomas Mann, Klaus e Érica, com os quais viaja pela Europa. Sozinha, porém, enfrenta o Oriente Médio e o Afghanistão em suas andança, assim como o sul (pobre) dos EUA durante a depressão, aquele sul imortalizado na literatura por Carson McCullers, que por ela se apaixonou. Conhecida por sua vida desregrada, regada a alcool e drogas, Annemarie morreu (pasmem!) depois de uma queda de bicicleta na nativa Suiça, em 1942.
Com certeza há outras autoras por aí, mas que eu saiba, nenhum alcança, nos últimos 70 anos, um status de autora de literatura de viagem comparável, sei lá, à fama de um Bruce Chatwin o de um William Least-Heatmoon. A produção masculina desse gênero literário é, sem dúvida alguma, muito mais ampla e rica, doutada de um corpus literário de bem outra espessura.
Virgeinia Woolf, em seu clássico A room of her own afirma a grande limitação da falta de um espaço (intelectual, mas fisicamente real) dentro do lar onde as mulheres produzissem a salvo das interferências externas familiares e domésticas.
Eu quero, aqui, colocar o reconhecimento de outra limitação dada ao corpos das mulheres: o limite do espaço externo, exterior como redução da possibilidade de viagem, como possibilidade da qual as mulheres têm sido sistematicamente limitadas.
Limitadas no tempo e no espaço, limitadas com afinco, uma limitação que continua limitando seus passos. São muitos, muitos mesmos, os espaços e os lugares negados às mulheres, nos territórios onde os viajantes transitam somente quando são homens (ou seja: de sexo masculino).
Boa parte do mundo, até hoje, rejeita a ideia, quando não a simples hipótese, de mulheres que se deslocam sozinhas pelo mundo, sem a "proteção" de um homem, seja pai, irmão, filho ou marido. A viagem legítima, para uma mulher, é a viagem com uma meta, uma razão. A viagem pela viagem, a viagem pelo prazer de viajar por esse mundo curioso, não lhe pertence.
Proibições evidentes são as interdições a espaços religiosos ou públicos em muitas partes do mundo. Menos evidentes são as limitações que ela enfrenta em países onde a teoria a vê como sujeito, mas ainda assim ela é socialmente objeto.
Foi nisso, que pensei, nesses dias que passei em João Pessoa, enquanto tentava conciliar meu desejo de andar por aí descobrindo, sozinha, a cidade e suas praias, com as necessidades de um congresso. Sou caxias, o congresso ganhou, e eu só tenho algumas imagens e poucas impressões verbais, que não passam da síntese de um guia de viagem ou de uma brochura turística...

Um comentário:

  1. Essa questão de limites impostos à produção literária feminina é algo que vem de muito tempo mesmo e podemos dizer que a falta de espaço existe até hoje. O pior é que existem pessoas que acreditam que as mulheres não produziam. Mas, na verdade, muitos de seus escritos eram silenciados. Quanto à essa rejeição da ideia de mulheres sozinhas se deslocando pelo mundo, eu sou uma prova viva! Chegam até a ficar surpresos com a minha "coragem" em certos momentos. João Pessoa é uma cidade maravilhosa, que merece ser visitada apenas para turismo, sem as necessidades de um congresso! Aqui está outra caxias e este venceu! Mas, para mim, em geral, foi uma viagem pioneira (primeira vez andando de avião e visitando o nordeste), produtiva, interessante e...divertida também! rsrs.

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