sábado, 14 de novembro de 2009

SOBRE O SEXO DAS ESCOVAS DE DENTES.



Vi uma publicidade de uma escova de dentes da Colgate.

Já que estou envolvida na elaboração de um ensaio acadêmico de máxima & absoluta seriedade, era óbvio que minha cabeça ficasse divagando, perdida atrás do simbolismo de duas escovas dentais conversando tranquilamente na tela de minha TV.

Já está assumido que é normal ver escovas de dentes falantes.

Isso é preocupante?

O que me assusta destas duas escovas de dentes animadas é que elas não estão atuando como duas personagens infanto-juvenis, mas para um público adulto.

E meu ensaio acadêmico hiper-mega-ultra profundo & erudito sobre a memória do passado, do presente e do futuro foi definitivamente derrotado pelo interesse em mim suscitado pelas duas escovas de dentes.

Oh, tempos de costumes ingratos, onde ao severo trabalho do erudito se substitui assombrosa a peça publicitária mais escrotinha dos últimos tempos!!! Reparem, aqui, como parece de verdade meu desespero em relação ao ensaio derrotado por novos & BEM mais dignos temas...

A publicidade em questão é escrotinha porque me ofende em dois pontos, sem que reparemos muito sobre o porque, enquanto a alegre paleta de cores escolhida para essa animação de poucos segundos nos remete às cores de brinquedos infantis:

1) No tratamento infantil reservado aos compradores do produto que, pela conversa explícita, tão crianças não se imagina que sejam.

2) Nos estereótipos sexistas que as duas escovas engendram.

A publicidade: duas escovas, uma vermelha, mais baixa, com formas no cabo que remetem a um corpo com curvas, voz feminina, dá uma cantada barata na segunda escova, branca com pontos de cor, mais... “ereta”, voz masculina. Uma escova “varonil”. Se inclinando para a escova macho, a escovinha vermelha, que chamarei de RED, aproxima seu busto e começa e tecer elogios das virtudes atribuídas ao macho de plástico falante, que chamarei NERD. Esse estranho espécime químico/plástico, o Nerd responde, com efeito com voz de nerd, mostrando a “solidez” da fama, explicando que, sim, ele limpa e protege muito, mas muito mais cuidadosamente contra as bactérias. Enquanto isso, na tela se pode apreciar o movimento de “cuidadosa limpeza & higienização” de uma cavidade oral. A “peça” se encerra com a afirmação da escovinha sexy RED de que ele realmente alcança todos os pontos...

ATÉ CHEGAR LÁ, ONDE NENHUM HOMEM JAMAIS ESTEVE?????

Ora, pois. Ora, pois.

Espera-se que a animação, com essa “carga erótica” embutida não fora pensada com o objetivo de alcançar um público infanto-juvenil.

Seria, aqui, redundante, explicar que um tipo de publicidade assim é sexista na medida em que, para lá o jogo de paquera, saudável atividade, as duas escovas codificam “mitos” sobre forças e fragilidades.

A escovinha Red é uma pequena mulher de plástico enfaixada por um vestido vermelho, que não remete exatamente a um ambiente de escritório. Ela desloca seu “rostinho” de cerdas, talvez traindo a idade acima dos 40, não é voz de menina, e suas cerdas estão um pouco gastas.

Pobre sexy Red, que já se dispõe à resposta mais Nerd de todas, enfastiante, sem brilho, digna de um engenheiro acostumado ao lado prático das coisas, ela olhando com seus olhinhos azuis para frente e para cima, enquanto o amigão Nerd, em sua altura melhor, acaba dando uma espiadela nos peitinho da plástica Red, ele, que deve ter passado boa parte da sua vida lidando com máus álitos, barriguinha, futebol & cerveja (Nerd também não é mocinho...). Nerd explica o que sabe fazer. Sem poesia. Do alto de sua “hombridade”.

Não estou brincando, essa publicidade é de um sexismo incrível, e se for para gente “adulta”, me poupem da metáfora e coloquem atores em carne e osso, que meu cérebro derrete, na frente dessa meleca animada.

Claro: dessa maneira a Colgate fixou seu produto em alguém. Não em mim, pois não lembro do nome do Nerd.

Não quero um mundo politicamente correto, mas estou um pouco entediada pelo fato de não me reconhecer nas representações que de certas idéias do feminino bem marcadas por aí.

Quero dizer, se a publicidade é a representação de sonhos e desejos de consumo mais ou menos induzidos,

O QUE ACONTECE COM AS PRIVADAS????

Quero dizer, contem o numero de vezes que passam publicidades em que mulheres desesperadas recebem visitas inesperadas em seus lares. Pode ser uma verdadeira equipe de fiscalização televisiva vestida de jalecos brancos ou uma atriz, ou a criança da vizinha que resolveu atualizar o dito sobre a grama do vizinho que é sempre mais verde pela versão o banheiro da vizinha é sempre mais limpo.

Todas essas visitas são acompanhadas por um pedido assaz estranho: posso ver seu banheiro/sua privada? Eis a primeira estranheza: POR QUE toda essa gente quer “ver” a privada, que já se tornou, assim, lugar de sociabilidade extrema?

A resposta não é simples: os banheiros dessas pobres mulheres são imundos, fedem, precisa de escafandro de proteção, para se aproximar deles... Por que cargas de água toda essa gente tem esse desejo perverso????

REALMENTE OS GÊNIOS DA PUBLICIDADE SÃO TÃO ALIENADOS QUE ACREDITAM QUE MEU SONHO DE CONSUMO DEVE SER OBTER A PRIVADA MAIS LIMPA DA HISTÓRIA?

O QUE SE GANHA, COM ISSO? ALGUM NOBEL?

E, principalmente, a dúvida:

POR QUE NENHUM HOMEM ESTÁ ENVOLVIDO NA TAREFA DE ENCONTRAR

UM PARAÍSO

NA PRIVADA?

Volto ao meu ensaio erudito...

5 comentários:

  1. as propagandas de escova não me afetam, pois são toscas demais para isso... no entanto as de privada... alguém pode me dizer por que é tão impotante manter nosso vaso limpo e desinfetado com Arpic purific(detalhe é que a parte qe precisa ser desinfetada nem entra em contato com o nosso corpo)? Ou por que o tiozinho do Pato não pode trocar o refil do vaso sem chamar a esposa?

    E por que que uma mulher gasta "x" horas por ano lavando louça enquanto o "maridão" faz merda nenhuma? Aliás, porque eu preciso de uma lava loça para assistir "y" filmes por ano, e fazer 15 min de academia por dia?

    Santa paciêcia para assistir até tv a cabo, pela qual a gente considerava que tinha pelo menos o mínimo de conteúdo! (isso antes, quando ainda era um a mera mortal apenas com TV aberta, depois a gente descobre que é melhor ver coisas pela internet...)

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  2. Pô, Giulia! Eu ia analisar essa propaganda das escovas no trabalho final da sua disciplina optativa de imagens. Sacanagi.

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  3. Ei Virgínia, qual o problema?
    Ela fez a análise dela, agora faça a sua
    Todas as propagandas deveriam sugerir essa temática, afinal tudo tem um propósito sexual
    Viva Freud ;)

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  4. E o pato que surfa no vaso sanitário? E o faz com uma alegria. Barbaridade...

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  5. Já não chega as propagandas de cerveja em que o apelo sexual se faz um tanto qto grotesco, me lembro uma vez de ter visto um comercial que a principio, para mim q era criança não tinha maldade, mas depois... Eu descobri que a mulher pegava na garrafa de cerveja como se fosse um pênis que ela estava a masturbar, um horror. EU acho que era propaganda da skol, umas mulheres boazudas entrava com um cara feio que dói por uma porta de cowboy, saca? Daí, tinha uma mesa redonda, ele sentava uma mulher ia pegar cerveja, colocava na mesa, com uma cara de... eu quero f*, abria a cerveja, segurava naquele parte"ereta" da garrafa e fazia movimentos de ondas, mas isso era bem sutil, no entanto, conotava o sexo de uma maneira totaltamente sem virtude, tipo, encarei desde então tds as propafandas de cerveja como sendo essa prostituída...

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