segunda-feira, 8 de setembro de 2014

SÓ OS BIBLIOTECÁRIOS NOS SALVARÃO...


Ultimamente, deixei de organizar meus livros. Estão, simplesmente, onde tiver um primeiro livro na horizontal, sobre o qual empilhar os outros. Não é minha culpa. São eles que estão organizando algum tipo de barricada na frente, possivelmente, das estantes em que os parceiros deles estão na vertical em dúplice fileira. Caramba, não sei como isso foi acontecer, faz meses que observo, preocupada, o crescimento dessas paredes, tão parecida com os fenômenos suburbanos dos condomínios fechados: muros impenetráveis em que até conhecidos de boa vontade se encarceram.
Hoje, acabei de "horizontalizar" Guerras do Prazer, do Peter Gay, depois de nele encontrar não um, mas sim, dois capítulos sobre "gosto" estético e burguesia vitoriana e sobre colecionismo na mesma época. O livro está deitado feita uma Vênus desfalecida após sua conjunção com Marte sobre uma cama, cujo cobertor é uma tal de Semiótica Visual. Por travesseiro, Espaços da Recordação, enquanto o colchão é Gadamer com espuma de Gombrich. E ainda tem o estrado, os pés da cama... Enfim, um depósito que obstrui todos os meus volumes sobre memória, coleção, museu. Não consigo alcança-los. Acima, três cadáveres literários, só um presta, O drible, capaz de envolver no futebol alguém totalmente alienada no negócio como eu. Mas a Moscovitch e o Bellotto de Macchu Picchu massacraram minha paciência. Ufa. Não chegam a cobrir os pés dos vizinhos em pé, Manuell Castells e Garcia Canclini. Do outro lado, está uma pequena pira de livros sobre museus e monumentos. O pior é na estante da outra parede. 

Aí jazem, em estado de lido, semilido, nem começado, duas pilhas de mais de mais de dez livros cada uma.  Me sinto fragilizada. A desordem reina, absoluta. Têm policiais noruegueses, autores contemporâneos brasileiros, um livro gigantesco sobre Japão, terminando, no topo, de um lado com um angolano e do outro com Salinger. No meio, ensaios variados. No quarto se observa uma tendência lastimável a acumular duas pilhas muito alimentadas, são duas excrescências, duas monstruosidades bulímicas cada uma alta mais de 50 cm., SOBRE a estante já lotada ao lado da cama.

Murakami descansa, plácido, em sua versão inglês de Tsukuru Tazaki aqui, sobre a escrivaninha, pois eu não soube me conter e esperar por uma tradução em português ou em italiano. Debaixo dele, o tijolão de Donna Tartt vai para sua conclusão nesses dias.

Óbvio que, desse jeito, vou precisar de um sentido novo nas leituras. Toda essa desordem nada mais é do que minha perda de rumo, minha busca de caminhos. Os livros sabem disso, e tenho certeza de que eles estão buscando um novo arranjo entre si, ou simplesmente se esconder de mim.
Quem me dera tivesse nascido organizada! Me espanta ler sobre gente como Otlet ou Dewey, gente que vivia alinhando até as pantufas ao lado da cama, obsessivos-compulsivos da ordem... Eu confesso que fui derrotada pelas new-entries dos últimos meses, essas pilhas que não querem se encaixar, elas reclamam minha atenção e eu não sei de que lado me virar para "pescar" meu livro guia entre os outros!

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