domingo, 23 de setembro de 2012

PALHAÇOS & IRREVERÊNCIAS


De todos os elogios que já recebi em minha vida, ser chamada de irreverente porque considero culturalmente interessantes trabalhar "fora dos trilhos" utilizando de maneira insólita o que faz parte do panorama urbano da cidade onde resido me parece um resultado no mínimo interessante. Que bom que nem tudo que a gente leva a sério deve ser sisudo, que bom que não faço parte dos mumificados que se consideram iluminados e que olham sempre com muita reprovação as lascas nos olhos alheios sem se aperceber dos troncos de carvalhos que carregam cravados na alma...
Que bom poder passear por panoramas tidos como conhecidos sem olha-los como lastimáveis, mas procurando neles aquilo que constitui nossa vivência quotidiana. Que bom poder aproveitar também do mundo como ele é, procurando as secretas tramas que unem o passado ao presente, sem resmungar sobre a fantasia de um presente sem estética oposto a um passado idealmente ético... Que bom encontrar a ética dos grafiteros na sua estética!
Gostaria de ser mais irreverente ainda. Gostaria de transformar aquela Maria-fumaça que fica enferrujada e se tornou mictório de sem-teto lá perto da rodoviária de Black Stream no expresso vermelho de Hogwarths. Levaria todas as crianças que sonham uma escola como a de Harry Potter nesse trem dos sonhos deles, contando que, antes desta magia, aquele já era um trem dos sonhos, o trem dos sonhos de muitos imigrantes, e contaria esta história...
Irreverente, sempre, mas também, melhor isso do que o abandono atual das coisas no meio das brigas infindáveis de um poder público engessado, cego e elitista da cultura. Reverência se faz à monarquia, mas eu sou por natureza republicana e um pouco sacana e chafurdo com prazer na lama colorida da cultura mais pop de nossos tempos... Viva os palhaços, viva os bufões, irreverentes que sempre incomodaram os podres poderes de quem quer (m)andar em um único trilho do pensamento!

Nenhum comentário:

Postar um comentário