sábado, 11 de fevereiro de 2012

ARTE (SEM) MUSEU


Fernando de Noronha se visita quase unicamente pela magnificência de suas paisagens. É um lugar bem particular, pois em sua história foi descoberto no comecinho do século XVI e ninguém vivia aí por não ter fontes de água potável. O tal de Fernão de Loronha, a quem a ilha fora doada pelo descobridor, Américo Vespúcio, por não encontrar na ilha metais preciosos nem pau brasil, não se interessou pela ilha deserta, mais próxima da África que de São Paulo. Os holandeses, que ocuparam o nordeste, também colocaram um posto avançado na Ilha mas, como perderam contra os portugueses, tiveram que abandonar tudo. Aí os portuguêses, finalmente, demostraram interesse pelo lugar, que hospedou um sistema de pequenos fortes e, finalmente, se tornou colônia penal. E nunca mais deixou de se-lo.
Com o tempo, a colônia penal foi desativada, mas os descendentes dos criminosos que nela estavam constituem uma boa parte dos residentes atuais. Além deles, se encontram os que têm ou tinham envolvimento com a marinha brasileira, que manteve a ilha protegida por muito tempo.
Mas as coisas mudam, a economia preme e Fernando de Noronha se tornou um paraíso da indústria do turismo de massa. Amei.
Amei porque é realmente um lugar espetacular.
Amei porque amo tudo que é ilha.
amei porque vi os golfinhos.
Amei porque mergulhando vi tartarugas tubarões e um monte de peixes coloridos.
Amei porque continua uma colônia penal.
Extremamente agradável, mas ainda assim uma colônia penal. Em que os turistas devem se submeter a verdadeiros trabalhos forcados. A questão é simples: você fica 5 ou 7 dias, durante os quais você acaba querendo aproveitar todos os passeios, mergulhos, acessos que as agências oferecem. Não tem como evitar.
Em Fernando de Noronha você se dedica aos trabalhos forçados e se diverte.
Mas eu sou uma FdP e não me contento em diversão. tanto é que participei do passeio histórico, podendo visitar os monumentos da ilha. Que são belíssimos enquanto apelam para nosso desejo romântico de sublime na paisagem: ruinas e rochas enormes batidas pelas ondas do oceano azul... típico daquelas representações artísticas de um século XIX que ama a Natureza imperiosa que tudo, com sua força, devora... Sentimentos evidentemente compartilhado pelo meu grupo de visitantes que aproveitaram para tirar um monte de foto. Isso é patrimônio histórico. Tem chancela. É protegido. É um ato didaticamente correto que merece ser feito.
É, também, um ponto importante de visita o Projeto Tamar da ilha. As tartarugas desovam na ilha e, como estamos em um santuário ecológico, elas se beneficiam do SUS marinho.
No Projeto Tamar tem uma loja. Mas isso não é o ponto. Tem um pequeno percurso "didático" sobre as tartarugas, dividido em dois momentos. O primeiro, debaixo de uma marquise, oferece aos turista alguns exemplo de esqueletos de tartarugas, mostrando como a presença do homem as coloca em perigo de extinção. Tem um pequeno diorama (diorama: tão antigo e tão eficaz!!!), com um monte de filhotes de tartaruga em vidro-resina que corre, inelutavelmente... para a parede pintada com um monte di filhotes que correm contra a pintura do mar. Não parece o melhor, correr para uma parede, para garantir a continuidade da espécie. Na parte externa, em volta dos prédios, se encontra uma verdadeira exposição em vidro-resina da fauna marinha da ilha. "Empalados" em suportes de metal de mais ou menos 5o/70 centímetros de altura ( o sistema lembra das antigas coleções de borboletas, com os bichinhos fixados contra o papel com agulhas) encontramos golfinhos, tartarugas, barracudas, moreias, mais tartarugas, tubarões, mais tartarugas...
Fascinada, descobri que TODAS as peças são assinadas. Pelo artista. Porque, justamente, uma instituição que quer divulgar o que faz, como o Projeto Tamar, procura meios para se comunicar, e essas "esculturas", oficialmente encomendadas, carregam o nome do artista, oficialmente encomendado.
Fascinada, descobri que no lugar se encontra um orelhão. Em forma de tartaruga. Com a assinatura do artista. O mesmo da exposição didático científica com interpretacão artística em volta...
Em Fernando de Noronha tem museu. Aliás, dois. Um, fechado. Ligado ao espaço cultural da ilha, que está fechado. Ninguém sabe se um dia, ainda vai abrir.
O outro, é o "Museu dos Tubarões". O nome diz tudo. Mas não se trata de um museu museu museu. Não exatamente. É um conjunto perfeito de síntese das necessidades do turismo de massa: lazer, entretenimento, comida, bebida, mercadorias (lembrancinhas da ilha) e um toque de ciência. As paredes são decoradas com as bocarras ossudas dos tubarões. grandes pôsteres explicam a cadeia alimentar marinha, do planctom ao tubarão.
Nesse espaço se ministram também mini palestras sobre a formação das ilhas, o clima, o movimento das ondas... A parte que mais surpreende, porém, é o lado aberto do museu. Aqui, tem um grande espaço batido pelo vento, que acaba onde as rochas caem no mar. É uma área disposta e organizada para passiar entre gigantescas esculturas em aço, silhuetas simpáticas de peixes, monstros marinhos dentuços, rabos de sereias. São obras simpáticas e interativas: você pode sentar no trono de Netuno, botar a cabeça na boca de um tubarão... E ainda, estranhas tenazes gigantescas de lagosta abrem seu caminho surgindo do chão.
Nesse caso, o negócio não é institucional, ou seja, o Projeto Tamar que contrata um artista. Nesse caso, é o dono do negócio que faz seu pedido.
Óbvio que, até aqui, tudo é feito para uma compreensão do turista, para seu agrado, e é feito habilidosamente (talvez, sejamos sinceros, seja mais agradável do ponto de vista "sensível" o conjunto de aço, do que a fauna marinha em moldes "científicos", os animais de aço são fantásticos e ativam nossa imaginação. São um fato, digamos assim, mais "artístico" do que o primeiro.
Mas Fernando de Noronha, quando se foge da espessa rede dos maravilhosos trabalhos forcados do turismo de massa, oferece também um exemplo de ARTE CONTEMPORÂNEA, daquela difícil que, em uma galeria de arte ou em um museu nos deixa com a cara perplexa, cutucando o queixo, na esperança de entender "do que se trata".
Só que essa ARTE CONTEMPORÂNEA não está em um museu. Ocupa um canteiro, uma pracinha, que dá acesso a uma pousada, cujo nome domina o conjunto artístico.
O conjunto se encontra em um ponto onde, querendo ou não, todo turista acaba passando inúmeras vezes.
Em um primeiro momento, não entendi do que se tratava. Mas é isso que acontece sempre na frente de uma obra de ARTE CONTEMPORÂNEA. Na segunda passagem, continuei sem entender o que eram aqueles aglomerados de "coisas", objetos que encontrariam muito bem seu lugar no lixo. Pedaços de madeira, lataria de bugre, pneus, cordas, metais enferrujados...
Moral da história: decidi gastar um tempo passeando pelo canteiro e.... ENTENDI!
É uma obra de arte, sim. Não sei se o resultado é dos melhores, mas é, definitivamente, uma "coisa" de arte.
Basicamente, cada elemento da composição representa aspectos da ilha. Tem uma tartaruga de pedras, tem a parte de cima de um bugre (lá, até taxi é bugre!) pintada de vermelho e ouro, têm tábuas de surf coloridas, têm objetos de uso quotidiano que ameaçam o ambiente (suponho que as garrafas de PET em forma de árvore aludam à reciclagem de tudo que é plástico), tem também a denúncia à poluição causada pela incúria dos próprios turistas.
Olhem, eu posso estar enganada, mas no vídeo acho que da para ver, não estou errada não...
No meio de tudo isso, surgem outros golfinhos e criaturas decorativa que se encontram na ilha. Alguns, não piores que os do Projeto Tamar...
No começo, coloquei também o "monumento" que marca o acesso ao centro histórico (aquele pássaro que se parece com um totem indiano) e uma escultura doada (à cidade?) pelo tal artista da placa... Bom, me diverti muito, na Colônia Penal de Fernando de Noronha: fiz todos os trabalho forçados do turista e, ainda, me dediquei aos estudos histórico-artísticos... vai vendo!

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