segunda-feira, 27 de setembro de 2010

OTIMISMO NO SUS



Domingo, final da tarde, posto de saúde de Garden Town... O SUS é uma alegria que, nesse caso, deveria ser assinalada ao Macaco Simão. Até a administração passada, Garden Town, cidadezinha próxima de Black Stream, tinha um hospital. Do SUS. Como todos os lugares, Garden Town também precisa de hospital. Mas nesse hospital as coisas iam de mal para pior. Os médicos abusavam e recebiam pacientes particulares na estrutura, faziam o que bem entendiam e a população não tinha qualquer benefício disso. Então, entre as várias propostas da gestão que se tornou a atual, havia também a de solucionar esses problemas. Dito, feito: o prefeito eleito resolveu MESMO. Agora não há mas uma má gestão, agora ninguém aproveita a estrutura do hospital público para ganhar/especular/aproveitar. O hospital, simplesmente, foi fechado.
Fechado.
Garden Town, agora, só tem um pequeno posto de atendimento nas antigas estruturas do que já foi hospital. É assim que se resolvem os problemas.
Mas esse não é o ponto, aqui, hoje.
O ponto é outro.
O ponto é que na sala de espera eu vi algo que me deixou encabulada, encafifada, encanada e, principalmente, MUITO, MUITO preocupada.
Uma questão de detalhes.
E de marketing. Marketing da PESADA.
Então.
Eu, FdP, estou sentada na cadeirinha de plástico da sala de espera. Faz calor, porque em Garden Town também está quente. Menos de Black Stream, mas ainda assim, calor, calor, calor.
Olho em volta e, claro, não espero que seja um lugar bonito. É baixo astral, como todas as salas de espera dos postos de saúde. E, como em todas as esperas nas salas de espera dos postos de saúde, a espera é suficientemente demorada para permitir a observação do ambiente em volta.
São três filas de cadeiras, um bebedouro, uma porta para os banheiros e o guichê da recepção, ao lado de outra porta para a área das visitas.
Acima do guichê tem um relógio.
Um relógio peculiar, um relógio que me deixa inquieta. Não sei porque, mas me deixa inquieta.
Não, não porque o tempo passa, e quanto mais passa, menos tempo eu tenho para ficar nesse mundo, e em um posto de saúde o pensamento nefasto existe, podem ter certeza. Nada como estar em um lugar onde a dialética saúde doença é explicita, para perceber a brevitas vitae. Não é por isso que me inquieta.
É que é um relógio diferente.
No lugar dos números, tem letras. Me concentro nas letras, tentando decodificar a palavra que elas, no círculo das horas, compõem.
No começo, não consigo, tenho que procurar a letra inicial, que não coincide com o que seria o número doze, a parte "central" do relógio.
Localizo, finalmente, o começo da palavra. A primeira letra está no lugar do que seriam as oito horas, em baixo, no lado esquerdo do círculo.
É um F.
No lugar das nove, a segunda letra.
É um U.
Depois, no lugar das dez:
Um N.
Seguem:
Um E,
Um R,
Um A,
Um R,
Um I,
Um A.
Decodifico:
F-U-N-E-R-A-R-I-A.
Funerária.
A palavra acaba às quatro horas.
Depois, no sentido anti-horário, entre as sete e as cinco, está esscrito: 24 h.
Estou eu sentada em um posto de saúde do SUS, em Garden Town, entre saúde e doença, e observo o tempo passar, MEU tempo passar, MEU TEMPO PATROCINADO pela "FUNERÁRIA 24h", que aqui faz seu marketing...
O relógio está lá, todo mundo pode ir, é um ESPAÇO PÚBLICO para PACIENTES, em geral não vai que se sente bem... todo mundo pode ir lá,
para meditar sobre o "sentido horário" da vida e da morte...
Dá o que pensar...
FdP.

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