sábado, 5 de setembro de 2009

EM TEMPOS DE CRISE...

Ideias para um best-seller:
ESCREVER UM MANUAL DE AUTO-AJUDA.
O gênero tem lá sua história. Sempre pensei que a Ars Amandi de Ovídio fosse um manual.
O manual dos generais, conquistadores e imperadores inteligentes, na antiguidade, era o De bello Gallico. O cristianismo oferece um vademecum exemplar no Cura Pastoralis de Gregório (que nome mais grego, para um papa romano, em tempos de grande cisma...).
Conheço um manual propedêutico à leitura e aos estudos universitários, a Arte de ler de Hugo de São Vitor.
Depois, vêm dois manuais para seguir carreira na corte & na função pública; o Cortesão, de um lado, e O Príncipe, do outro.
A partir daí, a auto-ajuda se "vulgariza", no sentido popular do termo. Talvez porque se contamine com outro gênero literário, esse sim, bem "popular", o Almanaque. Para se ter uma ideia, no almanaque, até hoje, a gente aprende um monte de coisas bem práticas, sobre quando engarrafar os vinhos, quando a lua cresce & aparece, o que semear na época, os santos aos quais recorrer a cada dia e, finalmente, a astrologia. Essa sim, que é importantíssima, em qualquer almanaque de respeito, em todas as épocas. Essa astrologia, vontade de futuro sem incertezas, prática condenada pela igreja e, ainda assim, presente na maioria dos jornais até hoje, ainda vende, vende, vende...
Ao lado de todas essas "ajudas" para sobreviver melhor a cada dia, havia a parte "profética" da Astrologia de Almanaque: nem todos sabem que um dos livros "referência" quando as Grandes Urucas acontecem no mundo, as centúrias de Nostradamus, nada mais são do que uma coletânea de "visões" que o dito cujo escrevia para ganhar seu pão exatamente nos almanaques. Ele era medico, formado em Montpellier, amigo de juventude daquele Rabelais que, infelizmente, por ter escrito uma grotesca & maravilhosa história de gigantes, tão escrachada & provocadora de risos, acabou bem mais distante do sentir "popular" do que São Nostradamus da Uruca Perpétua.
Bom, voltando à auto-ajuda: ela, então, nessa mistura com os almanaques e com a grande força "reprodutora" & "barateadora" da imprensa, acaba se FIRMANDO FIRME (bem firme mesmo, para reforçar a firmeza do gênero) nos livros de modelos, onde se ensina, sei lá: a dançar, a usar espadas, a cortar & costurar e, também, a se comportar na nova "civilidade" cada vez mais barroca: eis o Galateo aparecer para se multiplicar em infinitas formas de receitas, padrões, modelos, esquemas, dicas & soluções definitivas para melhorar sua vida/relacionamento/trabalho/jardim/saúde/humor.
Todas receitas infalíveis, especialmente para seus autores, que já ganharam e ganham FORTUNAS nesse gênero trash que se origina entre almanaques, profecias (celestinas ou pseudo-orientais) & sonhos de uma vida "cortês".
Pois bem, já que o gênero vende, e vende bem, eu quero entrar na onda e descolar um dindin também, pois nem é necessário possuir grandes habilidades linguísticas: é suficiente um vocabulário de mais ou menos 150 palavras, conjunções inclusas. Conjugação verbal: só se for do futuro, esqueça o seu passado, deixe de pensar no seu inferno!
O gênero vende porque, apesar de sempre ter uma receita infalível (para quem, resta ver...), a Grande Uruca CONTINUA a nos assolar. E assim, a cada nova publicação reacende-se, luminoso, o neon do grande outdoor da ESPERANÇA.
Com essas reflexões, resolvi também entrar no mercado da auto-ajuda e oferecer um novo título. Depois de
O monge e o executivo (best-seller no craque do banco Vaticano na época?)
Quem robou meu sabonete/shampoo/condicionador/desodorante (editora L'Oreal, Paris)
O vendedor Tubarão/Tigre/Rottweiler & outros bichinhos de estimação mais ou menos próximos da gente
& outros manuais de perfeitos vendedores, eu tenho um título também, MUITO, MUITO Original:
O VENDEDOR FELIZ.
Dedicado aos vendedores que não querem vender.
O livro vai oferecer uma série de CASES, como qualquer livro de auto-ajuda de respeito.
E também algumas profecias. Daquelas inspiradas no sucesso de Nostradamus. Que tanto encontra o gosto popular de todas épocas.
O manual tem dedicatórias especiais, aos que me ensinaram essas técnica de vendas tão importantes e fundamentais para o sucesso de lugares como o Saint Ursula (pronuncia Iursulah) Mall (altíssima rotatividade de lojas: dois, tês meses, depois, vai ver pelos lucros astronômicos, as lojas fecham).
Atualmente, o lugar apresenta 80% de espaço fechado "por reforma". Na entrada, uma mistura de jovens querendo ser deprê (entre "emos" e "gótico" uma dezena de adolescentes simpáticos e sacados o suficiente para eleger o Saint Ursula (pronuncia Iursulah) como lugar de depressão infinita). Já teve casos de suicídios, lá dentro.
Bom, fui lá, confesso, umas vezes, SIM! Fui, porque é perto, quando estou por lá. Fui, porque a livraria sobrevivente do Saint Ursula (Iursulah!!!!!) é pequena, mas boa. Destinada a falecer, temo. Mas eu sou uma pessoa que se esforça para que sobreviva, "financiando" sua existência em troca, somente, de alguns livros.
No Aterrador Térreo do Saint (I)ursula(h) há uma MISTFICAÇÃO que preciso MESMO assinalar: a Capelinha de Saint (I)ursula(h).
Com direito à estátua.
Reza uma pessoa de cada vez, se quiser, na vetrine da Capela. Quando se fala em espaço íntimo como interioridade! Esse lugar permite "revelar" o recolhimento, a interioridade aos que passam, olhando para as vitrines. Aquele que reza também será visto...
Bom, e a MISTIFICAÇÃO? ONDE ESTÁ a MISTIFICAÇÃO? Simples: Saint (I)ursula(h) era uma sueca que fizera voto de nunca mais se lavar, e pretendia conversar a sério com os poderosos com base nesse pressuposto. Não deu certo, e acabou mártir. Estamos no século XIV.
ATENÇÃO, agora, para a MISTIFICAÇÃO da capelinha do Saint (I)ursula(h)!!!!
Há uma legenda, debaixo da Santa. Que fala de uma tal de (I)ursula(h)...
só que, só que....
MILAGRE DE TRANSMUTAÇÃO, DE TRANSFORMAÇÃO, DE TROCA DE IDENTIDADES!
Le-se a história de uma jovem russa, que quando a Russia virou U.S.S.R, C.C.C.P, enfim, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, bom, quando "os comunistas" fizeram a revolução... Encontrou seu martírio, pois era amiga/próxima daquela gentalha que era a família do Czar & todos os vampiros da nobreza que, para esquentar seus salões para as festas botavam os camponeses, ainda ligados ao sistema feudal da corvée, em fila, descalços na neva, para levar a lenha à suas lareiras. Nada justifica os crimes de Stalin, mas por favor, dá para maneirar na MISTIFICAÇÃO pseudo-religiosa?
Momento de CHOQUE & REVELAÇÃO para a FdP: É UM SIMULACRO! NÃO É ELA!
CUIDADO! NÃO É SAINT (I)URSULA(H)!!! A jovem honrada na capelinha da Santa não é nem Santa... LIGUEM PARA O PROCON, que Saint (I)ursula(h) em Black Stream chegou via Paraguay, e
QUEM NÃO SABE ACABA COMPRANDO uma (I)ursulah no lugar da verdadeira, original. Como comprar um fogão qualquer ao invés de Brastemp...
Concluindo, que já por hoje me cansei: vai ter uma prévia do manual de auto-ajuda por aqui, nos próximos dias, se alguém quiser aprender a receita para a felicidade do vendedor, fiquem sabendo...
Bjs da FdP.

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