quinta-feira, 5 de agosto de 2010

DIÁRIOS DE VIAGEM I

(Parma, Itália: Praça Giuseppe Garibaldi)
Leio sempre os comentários, às vezes com uma certa surpresa. Por exemplo, no meu último post, encontrei alguém que me sugeriu ir à Europa. Tranquilo, Pietro, vou à Europa com uma certa regularidade. Aliás, para mim, sendo eu uma Fada européia, nada mais é do que uma volta às origens. Para quem não soubesse, sou de origem mediterrânea, fada importada há 15 anos em terras Brasil-Americanas.
É emblemático da constituição da mentalidade observar o "espírito brasileiro" sobre a idéia do que é interessante visitar. Historicamente, me ensinaram, no Brasil se desenvolveu uma idéia de "civilização", no século XIX, que leva a um certo contraste com as imensas extensões de mata que cobrem o país.
A idéia de civilização é, ainda hoje, moldada em certo gosto "velho mundo" de oposição cidade/natureza, em que o ideal urbano conquista as almas brasileiras. Nenhuma surpresa, nisso. Só que, como disse, eu nasci, no "velho mundo". Aliás, meu país, longo, estreito e com uma presença "capilar" de cidades, cidadezinhas & vilarejos, é uma das metas do turismo internacional privilegiadas, exatamente por sua rica e linda história da arquitetura & do urbanismo. Assim, para mim, em contraste com isso, que é parte constitutiva de minha cultura e história, torna-se atraente a idéia da "grande fronteira", do horizonte sem limite, do espaço que, no limite, aparenta o vazio das marcas humanas.
E, diga-se de passagem, a Europa está um pouco decadente, em termos humanos. Meu país, constato com tristeza, vive "de renda" há quase 500 anos. Depois da grande praça de São Pedro, realizada na primeira metade do século XVII, apareceu o "bloqueio do antigo": nada mais foi feito, a criatividade estancou e o país, dominado ao longo de séculos pelos estrangeiros, fossem eles espanhóis ou austríacos, esgotou suas capacidades de "preservar vivendo sua atualidade" e só foi explorando por aquilo que já existia. Que não é pouco, certo.
Aliás, coisa interessante, o Estado Nação, em meu país de origem, é mais novo do que o Estado Nação brasileiro. Com efeito, o Brasil é de 1822, enquanto a Itália é somente de 1860. E são fortes as pressões separatistas, muito fortes, mas isso não aparece na imprensa brasileira e poucos sabem disso por aqui.
Mas não quero falar de Itália, talvez porque a leitura quotidiana dos jornais online me deixa pasma, entristecida e preocupada. Vamos mesmo falar de viagens em lugares que, para mim, fada européia (não tem mérito nisso, só o acaso do nascimento), representam, sim, o exótico distante....
Durante minhas viagens costumo manter cadernetas com as anotações do que fiz & vi. Vai, aqui, uma seleção do que fui anotando a caminho para e de volta da Mongólia (incluindo, assim, minha parada européia...). Dedicado a quem gosta de "viajar"...
Lisboa, 28/06/2010. Aeroporto. h. 14,30
Esperando embarcar para Milão. Última parte da viagem para começar minhas férias. Estou preste a encontrar meus pais. Se tudo der certo, iremos mesmo para a Mongólia. Tenho o desejo de que seja uma grande viagem. Tenho o temor de que possa ser a última dessa natureza "radical" com eles. Quero dizer que o tempo passa e ninguém fica mais jovem. Pensamentos nefastos, como nefasto é pensar, agora, no lugar de trabalho. Oh, Coisa inútil! Mas é bom anotar, mesmo assim. Colegas que chegam, colegas que vão embora. Hora de embarcar....

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