sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O VAMPIRO DOMÉSTICO


(Fonte da imagem: Wikipedia)
É a foto dos fundos de casa!!!!

Pois bem. Hoje estava eu a revirar ideias para o quarto dos fundos, que depois de apodrecer ao longo de décadas, e mofar,  descascar, oferecer refúgio para insetos e aracnídeos possivelmente peçonhentos encontrou-se de repente em fase de recuperação/saneamento. Chega de escorpião, de baratas, de aranhas, de cheiro de cama vampírica - terra eternamente úmida. Tampamos o vazamento. Fomos mais fundos. Abrimos o misterioso caixão em concreto que envolvia o tanque. Eu tinha certeza de que ia encontrar os ossos de algum corpo emparedado. O que tinha, porém, era um monte de entulhos, de origem não sabia qual, até procurar os canos de saída do banheiro dos fundos, aquele banheirinho vagabundo que ninguém usa, pois ainda tem o cheiro da tristeza de alguém que, para trabalhar, teve que se espremer em um quartinho escuro, úmido, ornado com poucas caras coisas: era o "quarto da empregada". 
Parêntesis:
É possível medir o respeito com as empregadas domésticas em metros quadrados. O de casa é do tamanho de um quarto de solteiro comum de um apartamento pequeno em um prédio padrão MRV (isso é: pouco espaço, materiais de baixa qualidade...). Para a época da construção, década de setenta, não é dos piores que já vi, ainda considerando sua posição desqualificada, próxima da área de serviço, com acesso externo ao banheirinho,  e não pelo quarto. Na época, um quarto desse para uma empregada era algo luxuoso. Já vi quartos piores, em casas melhores. 
Fecha parêntesis.
E aí, já que quebra para sanear, vamos reaproveitar o espaço e fazer uma mini suite decente para hospedes. 
E descobri:
Debaixo do piso do banheiro não havia nada. O que deveria estar aí acabou debaixo do tanque. E o espaço vazio podia conter o corpo de um adulto médio, dentro de um caixão. Que não estava lá, claro, pois nosso vampiro doméstico percebeu que íamos encontra-lo e deu o fora. 
Moral da história: enchemos o buraco, não há mais como penetrar, não haverá mais bichos rasteiros nem vampiros invasores. Acho que ele era da família que morava aqui, e ficou depois que os vivos (e os mortos) deixaram a casa. Aí nós chegamos. Já no primeiro dia percebemos onde está o canto mágico, aquele que por iluminação, geografia e microclima é perfeito para perfeitas inspirações. A área externa, porém, é sempre meio terra de ninguém. Só se passa, por aí. Não tem nada legal, naquele canto. Parece mais uma área de serviço malfadada, como tem muitas, especialmente onde há infestações de vampiros domésticos (obviamente, por longas décadas, se alimentaram das moradoras dos quartinhos). 
Mas enfim. 
Sugou nossas forças nesses anos. Estamos dando um basta. Teremos um lindo banheiro renascentista português com plantinhas de batatinhas alegres na janelinha. Luminária com estrelas e lua. Um quarto pequeno, com uma parede amarela, uma cama, uma mesa de escritório, boas luzes e, claro, um saudável e fundamental ventilador de teto. 
A área de serviço não será mais a primeira coisa que um hóspede encontrará, levantando de manhã. A área de serviço vai ser em
Copacabana!!!!
Sim, nesse basta que demos ao sentimento de pântano que o fundo inspirava, solucionamos o problema das enchentes domésticas em caso de chuva. Todas as vezes que chove, a água cria uma piscina que deságua no corredor da malfadada área de serviço. Agora chega, abre de vez as entranhas podres por onde todo mal nos infesta e cobe com um piso novo.
Breve explicação:
Eu amo praia. Eu amo mar. Eu amo o Rio. Não, sério, se mi dissessem hoje para ir trabalhar lá, iria. Sem mas nem porém. Mas aqui, em Black Stream, o mar não é nem uma eco longínqua. Não existe mesmo. Aqui moram somente as ninfas de água doce, mas logo vão se mudar, pois rios & riachos estão ressecando.
Bom, fico pensando, a Alma adoraria passear pelo calçadão, no Rio. 
Bom, continuo pensando, também depositaria quotidianamente seus dejetos caninos no calçadão.
Alma, minha querida, não posso te mostrar o mar, enquanto descarta o que nem seu estômago digere, mas o calçadão eu posso te dar! Assim, o piso do cocôdromo será Copacabana. Me pareceu uma solução sensata à impossibilidade atual de morar no Rio.
Agora, resumindo a questão: 
Cuidado com os vampiros domésticos. Costumam ocupar as áreas de serviço de casas mais velhas. Sintomas de sua presença são insetos antipáticos, cheiro de umidade, buracos em caixas de tanques ou debaixo dos pisos... 
Agora acabou, aqui em casa, agora o vampiro está oficialmente desconvidado. Queremos que saiba que em casa tem alho, que sabemos usa-lo (em variados pratos da culinária da Fada de Preto) tem cruzes, santos, altares budistas, comigo-ninguém-pode, espadas de São Jorge, tem verbena para os vampiros mais moderninhos. Temos também uma gata dotada de extraordinários super poderes de proteção (ela me salvou de um escorpião ao lado da cama no meio da noite!), e uma cachorra devotada, atenta e guardiã.
Acima de tudo, vampiros não têm convite para entrar em um quarto que, agora, vai ser decente. Quem dormir aqui vai ter aconchego... além da possibilidade de dar uma volta em Copacana (mas cuidado para não pisar no cocô!!!).
Guerra aos vampiros domésticos, xô, xô, 
e muito axé para tod@s nós.
FdP



terça-feira, 30 de setembro de 2014

AOS LADRÕES QUE ENTRARAM (E ROUBARAM) DE NOVO EM MINHA CASA

Acho que estou cansada disso. Arrombaram DE NOVO a porta da minha casa, entraram DE NOVO em minha casa, reviraram minha vida do avesso DE NOVO revirando armários, gavetas e o que for em minha casa e roubaram DE NOVO em minha casa. Da primeira vez, tiveram muita sorte, pois roubaram "coisas" de valor (tipo dinheiro, jóias). Despojada disso, sem mais valores em casa, não é que aprendi a lição? Em casa não tinha mais nada. E realmente, dessa vez os ladrões revelaram ser pessoas com desejos bem burgueses: roubaram os vinhos de família. Aqueles vinhos que eu, mamãe e papai escolhemos para que todos, juntos ou separados, presentes e ausentes, pudessem compartilhar esses vinhos com quem nos é querido. Era uma dezena de garrafas, não mais. Também, nada de muito valioso, somente uns bons vinhos tradicionais da Itália, mas coisas que se repõem com muita mais facilidade, muuuuuita mais facilidade do que uma jóia. Bom, a ferida é emocional, nesse roubo, muito mais do que financeira, dessa vez. Al;em, claro, da sensação de invasão em minha privacidade. Roubaram também as taças, para sermos exatos, 4 taças bonitas, mas disponíveis nas prateleiras de uma loja mediana, diria burguesa, de Ribeirão Preto. Ainda bem: aqueles vinhos merecem ser tomados em taças, não em copo americano. Brindem com suas mulheres do jeito melhor. Se, por acaso, voltarem para a minha casa, saibam que: a TV vai continuar aquele trambolho gigante que ainda tem que aquecer antes de ligar. No dia em que quebrar, me recuso terminantemente a ter outra. Por outro lado, vocês que são profissionais já sacaram que a parte eletroeletrônica em casa deixa a desejar; não vai mais ter jóias nem dinheiro além do que pode caber na carteira de qualquer um de nós em um dia qualquer, pois mais do que isso não precisa. Qualquer outra coisa, não vai em dinheiro, óbvio; não ando mais com o lap-top há muito tempo, os computadores em casa, mais ou menos obsoletos, já foram devidamente doados, tanto os que funcionavam, como os quebrados, mas alguém sempre sabe o que fazer com as partes mais do que eu, eventualmente têm um valor. Eu ando com um tablet que, obviamente, acaba sendo uma mercadoria de algum valor, mas preciso de um mínimo eu também, até para trabalhar; meus celulares não fazem a menor ideia do que é whatsup, pois não conseguem baixar absolutamente nada da rede (são VELHOS); ENFIM: ser uma gringa que TRABALHA no Brasil não significa que o dinheiro sai de mim quando vou ao banheiro, nem que em minha casa está escondido o ouro. ESTAVA, aquele pouco que a gente ganha de presente na vida, dos pais, das avós falecidas, aquilo que eu sei o quanto trabalharam para ter, mas vocês já levaram tudo isso. A porta que vocês destruíram no primeiro roubo foi substituída por uma de ferro. Agora, vai a segunda. Não sei se dá para concertar ou não. Se der, não vou me dar ao trabalho de substitui-la por outra. E, com certeza, não escolherei mais nada de ferro, não adianta, se não é porta será janela, se não é janela será um buraco na parede, tanto faz, o fato é que não quero viver blindada. Escolhi morar em casa porque não suporto me sentir em uma cadeia voluntária, e não quero morar em um cofre. Bom, a minha casa não é um cofre, mas está ficando vazia de coisas que eu não posso repor. Ainda assim, SENHORES PROFISSIONAIS DO RAMO DO FURTO, eram "coisas", coisas de maior ou menor valor. Coisas. Eu, quando for morrer, não levo, com certeza. Se a distribuição de renda é nesses moldes, bom, para vocês acabou a festa e para mim ainda sobram as lembranças. Lembranças ficam melhor com coisas que ajudem a lembrar, mas eu as escrevo, assim me garanto que elas não tenham qualquer valor para vocês, pois não vendem tão bem como as "coisas" que roubaram da vez passada, que tenham ajudado, talvez, a pagar (ou não, mas espero que sim!) o aluguel de alguma moradia decente para suas mulheres, para seus filhos. Já os vinhos, bom, é memória mais transitória, a garrafa um dia ia acabar, mas com certeza iam ser momentos bons, também geradores de boas memórias, tenham-os vocês, esses momentos. Apesar de não ser cristã, acho o ato de compartilhar o vinho bom o mais digno de todos, o milagre das núpcias de Canãa é o mais bonito de todos: não é porque estamos embebedados de bom vinho que no final se oferece Sangue de boi... Bom, SENHORES PROFISSIONAIS DO RAMO DE FURTOS, bebam um bom vinho nas taças que minha mãe me deu de presente (porque gostava de um bom vinho bem tomado), porque as memórias antes grudadas às coisas roubadas ficam comigo. Não tem mais "coisas" desse tipo, em casa. As que têm, não tem valor venal. São fotos, são bibelôs, são cartas. Inúteis para qualquer "boa" vida, ou antes somente para uma vida melhor. Claro, tem um monte de sapatos (mesmo que alguns sejam memórias, vocês poderiam levar, vou ter que doar mesmo!), roupas e a parte mais rica, aquelas que vocês não roubam: em casa, agora, só pode ser roubado livro. É o que de mais precioso tenho, espero sinceramente que, caso vocês resolvam que vale a pena pega-los, seja para seu proveito e para os de seus amigos e familiares, e não somente para reciclagem. Por favor, se roubarem isso, que é o que sobrou de valor, deixem os livros em italiano, peguem somente aqueles em português, ainda que depois de lê-los vocês queiram aprender uma outra língua, vai demorar um pouco, então me deixem pelo menos isso, ok? Prometo que vou deixar uma garrafa de vinho para vocês, talvez não italiana, mas chilena, argentina, até têm ótimas qualidades brasileiras. Mas com seus gostos burgueses, provavelmente vocês já sabem. Por favor, permitam-me um pedido, já que paguei com algum valor venal e muitas moedas sentimentais essas suas duas invasões em minha casa: da próxima vez, não revirem os armários à toa, não joguem o conteúdo das gavetas espalhado no chão. Não vai ter nada mais do que tinha hoje, isso é: nada. Na primeira vez até que deu certo, Na segunda tomaram vinho bom, na terceira vou vender a casa, quem vai comprar vai querer fazer disso um forte armado em guerra com o mundo e vocês vão perder a chance de ter uma moradora um pouco mais pobre do que o novo morador, mas que tenta pagar o que deve pontualmente a quem presta serviços, que não enche o saco de ninguém, que quer ficar de boa. Na boa. Chega disso, tô gastando muito em portas e janelas!

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A FÍSICA DA MISÉRIA E A RETÓRICA DA POBREZA


(Imagem retirada de: http://fisicamoderna.blog.uol.com.br/arch2006-06-11_2006-06-17.html)

Sabemos que existe a temperatura relativa dos graus Célsius, cujo termo de referência é o Zero relativo. Existe, porém, o chamado Zero Absoluto, que corresponde a  -273 °C.
Agora vamos para a economia fantasiosa do mundo globalizado do século XXI: Existe uma "coisa"chamada, genericamente, pobreza. Essa "coisa" genérica, que a gente fala com o senso comum, corresponde a Zero graus Célsius, que para todos nós é a referência da passagem entre o negativo e o positivo. Visto por essa perspectiva, na economia do senso comum, existe chama "pobreza digna" aquela que, com 724 R$, teoricamente consegue, com muitos sacrifícios, viver na dignidade de conhecer seus limites. Pode fazer planos futuros porque tem o que comer. Não é fácil, é um aperto que eu não consigo imaginar, mas dá pra comer todos os dias. Essa "Pobreza digna", atualmente fixada no valor do salário mínimo, corresponde, no nosso termómetro, ao Zero graus Célsius, o ponto de virada a partir do qual a temperatura se torna positiva.
O que acontece é que ninguém, no dia a dia, calcula o calor que sente utilizando, como referência, a "temperatura" Zero graus Kelvin, o zero absoluto. Ninguém fala algo do tipo: pôxa, hoje em Black Stream fez um calor insuportável, chegou a - 228 graus Célsius... e daí? É uma temperatura negativa em que não há possibilidade de vida alguma, ponto. Não faz sentido, uma diferença tão pequena entre algo negativo e outra coisa um pouco menos negativa. Nossa percepção continua negativa, se não percebemos diretamente que, no cotidiano, aquele negativo corresponde a  45 graus Célsius positivos. Não é compatível com nossa realidade essa abstração do "absoluto" e, nas estatísticas das grandes instituições econômicas, financeiras e o que for, significa "pior é impossível". O grau Zero absoluto da pobreza é a miséria sem futuro. É aquela miséria em que não se faz orçamento, não se escolhem sacrifícios, a serem feitos, porque não há nada a ser sacrificado. Esse ponto, o Zero absoluto, é a "morte térmica do universo", a entropia absoluta. A miséria absoluta é isso mesmo. Já com um grau a mais, ainda tem energia... Quando raciocina na escala de graus Célsius, sabe que, antes de chegar a esse ponto absoluto deve descer bastante, abaixo do zero. É um longo caminho que pode ser invertido, ou assim gostamos de pensar. Enfim, sempre pode ser pior, antes de chegar ao Zero absoluto, ao fim de linha da miséria.
Então, o que eu penso, quando a voz do marketing eleitoral fala, é que não nos contam que, na verdade, eles pensam a partir da referência da miséria calculada como Zero absoluto, mas aí eles a chamam com o nome errado, a chamam de pobreza (sem o adjetivo digna), mas não a chamam miséria. O que eu entendo é que eles têm uma retórica lastimável, através da qual conseguem afirmar, falando a verdade, a mais pura verdade, que a miséria não existe, mais ou menos em um jogo de prestidigitação lexical, dizendo que Senhoras e senhores, 1.00 R$ no bolso é tudo que precisa ter, é um degrau acima do Zero absoluto, é pobreza mas não mais miséria, venham e comprem a ilusão de que o tio Patinhas é você, com 1.00 R$ chegarão a ter seu próprio depósito de moedas de ouro, com essa moeda no bolso começa o caminho (íngreme, árduo, ardiloso) que os levará a conquistar... o Zero relativo, isso é: se vocês se esforçarem muito, mas realmente muito, um muito muito muito grande, poderão se tornar "pobres dignos". Andem, seus miseráveis, vocês ainda têm a chance de serem pobres! O pessoal do marketing, se sabe, é otimista. Com essa visão messiânica, o mundo é muito mais bonito e cor de rosa e os governantes do mundo inteiro se orgulham em eliminar do vocabulário a palavra miséria. Pena que, muuuuuitas vezes, se trate só de erradicação lexical...
Para mim, um dos grandes problemas nisso tudo é a dificuldade da maioria das pessoas, quando a língua se reduz a poucas palavras desgastadas de quem não desfruta de serviços culturais de amplo, amplíssimo espectro e qualidade (da escola ao teatro, da biblioteca ao cinema), em reconhecer a sutileza das campanhas em mistificar a "pobreza digna", aquela que (sempre teoricamente) oferece um futuro concreto e que é o nosso Zero graus Célsius, com a Miséria em que os sujeitos não reconhecem a si próprios nem mais as feições da humanidade. E  desculpem se isso é pouco!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

SÓ OS BIBLIOTECÁRIOS NOS SALVARÃO...


Ultimamente, deixei de organizar meus livros. Estão, simplesmente, onde tiver um primeiro livro na horizontal, sobre o qual empilhar os outros. Não é minha culpa. São eles que estão organizando algum tipo de barricada na frente, possivelmente, das estantes em que os parceiros deles estão na vertical em dúplice fileira. Caramba, não sei como isso foi acontecer, faz meses que observo, preocupada, o crescimento dessas paredes, tão parecida com os fenômenos suburbanos dos condomínios fechados: muros impenetráveis em que até conhecidos de boa vontade se encarceram.
Hoje, acabei de "horizontalizar" Guerras do Prazer, do Peter Gay, depois de nele encontrar não um, mas sim, dois capítulos sobre "gosto" estético e burguesia vitoriana e sobre colecionismo na mesma época. O livro está deitado feita uma Vênus desfalecida após sua conjunção com Marte sobre uma cama, cujo cobertor é uma tal de Semiótica Visual. Por travesseiro, Espaços da Recordação, enquanto o colchão é Gadamer com espuma de Gombrich. E ainda tem o estrado, os pés da cama... Enfim, um depósito que obstrui todos os meus volumes sobre memória, coleção, museu. Não consigo alcança-los. Acima, três cadáveres literários, só um presta, O drible, capaz de envolver no futebol alguém totalmente alienada no negócio como eu. Mas a Moscovitch e o Bellotto de Macchu Picchu massacraram minha paciência. Ufa. Não chegam a cobrir os pés dos vizinhos em pé, Manuell Castells e Garcia Canclini. Do outro lado, está uma pequena pira de livros sobre museus e monumentos. O pior é na estante da outra parede. 

Aí jazem, em estado de lido, semilido, nem começado, duas pilhas de mais de mais de dez livros cada uma.  Me sinto fragilizada. A desordem reina, absoluta. Têm policiais noruegueses, autores contemporâneos brasileiros, um livro gigantesco sobre Japão, terminando, no topo, de um lado com um angolano e do outro com Salinger. No meio, ensaios variados. No quarto se observa uma tendência lastimável a acumular duas pilhas muito alimentadas, são duas excrescências, duas monstruosidades bulímicas cada uma alta mais de 50 cm., SOBRE a estante já lotada ao lado da cama.

Murakami descansa, plácido, em sua versão inglês de Tsukuru Tazaki aqui, sobre a escrivaninha, pois eu não soube me conter e esperar por uma tradução em português ou em italiano. Debaixo dele, o tijolão de Donna Tartt vai para sua conclusão nesses dias.

Óbvio que, desse jeito, vou precisar de um sentido novo nas leituras. Toda essa desordem nada mais é do que minha perda de rumo, minha busca de caminhos. Os livros sabem disso, e tenho certeza de que eles estão buscando um novo arranjo entre si, ou simplesmente se esconder de mim.
Quem me dera tivesse nascido organizada! Me espanta ler sobre gente como Otlet ou Dewey, gente que vivia alinhando até as pantufas ao lado da cama, obsessivos-compulsivos da ordem... Eu confesso que fui derrotada pelas new-entries dos últimos meses, essas pilhas que não querem se encaixar, elas reclamam minha atenção e eu não sei de que lado me virar para "pescar" meu livro guia entre os outros!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

DIAS MELHORES VIRÃO?

Descobri que tem gente que acha que eu sou uma filhinha de papai mimada e que sou riquinha. Deve ser gente movida pela inveja. Não, não de uma riqueza que não existe, mas de como lidei com minha vida.
Vamos deixar algumas coisas "às claras":
1) Não sou filha de papai. Meus pais trabalharam a vida inteira. Em alguns momentos, tiveram que fazer uns sacrifícios. Agora, sem dúvida, fui privilegiada em nascer em um país onde estudar não era privilégio. Daí a dizer que sou mimada, passa um oceano. No sentido de que eu deixei meu país para enfrentar as dificuldades de ser estrangeira em terra estrangeira, pois não tinha trabalho para mim no meu país. Sou imigrante, ralei e tudo que tenho não me vem da família, mas de meu esforço. E não tive privilégio nisso, muito pelo contrário, às vezes me deparei com muitos, muitos obstáculos.
2) Não sou rica. Só tenho hábitos diferentes dos de muitas pessoas. No meu país, existe o hábito de "poupar". Isso é: não se compra se não se tem. Andei muito a pé por São Paulo. Dava aulas e ia de ônibus, chegando a demorar duas horas. Nunca reclamei disso. Quando consegui, comprei meu carrinho, um UNO, sem fazer dívidas. Depois, comprei outro, dando o primeiro de entrada. Sempre trabalhei, sempre paguei minhas dívidas, não gasto muito fora as despesas comuns de supermercado, de contas de luz e água. Saio pouco, quase nada, não vou à praia, portanto não gasto hotel e gasolina, não tomo cerveja com frequência, não tenho gasto com filhos, porque não tenho filhos, e isso ajuda a não ter muitos problemas, eu sei. Mas, ainda assim, os invejosos andam falando que sou mimada e riquinha. Esquecendo de que "nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça" para mim também. Não consigo que as pessoas que pediram algo emprestado para mim me devolvam, pois eu fiz para ajudar e agora estas pessoas, falando que eu posso, não devolvem o que devem.
Cansei um pouco, assim resolvi escrever este post para avisar: fiquem com suas vidas, não impliquem com a minha, tentei não perturbar ninguém. Se não gostam de suas vidas, não atrapalhem a minha. Não alimentem sua inveja à toa, aqui não tem dinheiro sobrando, não tem riqueza. Tem trabalho, tem uma história de solidão longe de casa (muito longe!), tem, também, como para todos, a necessidade de fazer escolhas nas despesas, tem perdas e ganhos. Se não gostarem de mim, por favor, fiquem longe, mas não andem falando por aí tantas besteiras!
Obrigada, tenham im bom dia.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

QUE ROUBADA!

Hoje fui. Já tentei, lá no começo de janeiro, mas tinha uma placa: abriremos dia 17 de janeiro. Aí, pensei que era uma besteira, fechar um lugar de exposições artísticas, com um acervo que, ao que eu li, é significativo da arte contemporânea brasileira, durante as ferias escolares.
Pensei: olha só, agora que na cidade não têm opções de lazer, seria legal um lugar culturalmente ativo, para dar uma volta, no ar condicionado, alimentando o meu cerebelo... Bom, resignada, marquei a data de reabertura e voltei para casa.
E.
Hoje fui. De novo. Debaixo de um sol escaldante, pensando a mesma coisa. Que seria legal bater pernas em um lugar culturalmente interessante, fresquinho (porque, é sabido, para conservar a arte o ambiente tem que ser climatizado). Queria alimentar meu cerebelo atrofiado pelo calor, pelas voltas inúteis em ambientes comerciais (oh, o tédio infinito do shopping, nem a graça de ver um rolezinho de gente diferente dos costumeiros frequentadores!), alienada pela falta de alternativas!
Fui. E voltei. Me xingando de boba e iludida. O lugar culturalmente ativo, o refresco cerebral tão desejado.... estava fechado. E assim permanecerá. Até dia 15 de março....
Mas aí, pergunto eu: abriu dia 17 para permitir a mudança da miserável folhinha A4 que diz que reabrirá em outra data??? Só??? E que miserável folhinha A4 é essa, oferecida aos que chegam procurando alimento cultural, lazer cultural, enfim, aquilo que me propagandearam como oferecido por esse lugar? Uma folhinha A4. Miserável.
Voltei para casa decepcionada, ferrada pelos mais de 37 graus de temperatura, frustrada e convencida de que Black Stream não tem nenhuma esperança de merecer o título de "Capital Cultural".
E não venham me dizer que a praça ao lado do shopping, de concreto escaldante debaixo do sol, com aqueles horrendos painéis cheios de textos que ninguém jamais lerá (pois: quem vai encontrar um jeito de atravessar o imenso cruzamento, debaixo do sol, para ler longas banalidades sobre um palhaço/quem ousa passear em lugar tão hostil/quem vai achar um jeito de estacionar em um ponto OBVIAMENTE pensado para transito de carros????), com imagens adocicadas de palhacinhos com asinhas de anjinhos é CULTURA! Cultura de quem, para quem? É notório que a praça foi um escambo: o shopping pediu a mudança do transito, o ministério público negou, aí negociaram. O shopping "inventou" essa praça sem noção em troca de passagem livre para os consumidores de maneira a favorecer os negócios.
E aí? Será que isso envolve as pessoas comuns, os sentidos estéticos ou memoriais delas?
E não venham me dizer que na esquina da Jerônimo com a Francisco J. o memorial às palmeiras, em concreto baixinho e com as fotos já apagadas, em outro lugar onde só se pode andar de carro, é significativo cultural e esteticamente!

Me sinto no coração das trevas desse mundo enganoso: É O HORROR, É O HORROR!!!
P.S. E o final, como todos sabem, é citação...
P.S.2 Não vou falar o lugar onde FUI e NÃO entrei, pois não se trata de lugar público. Portanto, como estamos nas mãos de privados, e eles têm direito de abrir e fechar do jeito que bem entender, não me cabe aqui dedurar. Agora, que me sinto ludibriada, me sinto!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

EU QUERIA...

Eu queria que 2013 não tivesse acontecido do jeito que aconteceu.
Eu queria que 2014 continuasse do jeito que começou.
Eu queria que levantasse o voo, depois dessa primeira estréia (que não foi tão ruim).
Eu queria realizar as poucas - e consistentes - metas que selecionei.
Eu queria escrever, e bem.
Eu queria mais autoestima.
Eu queria fazer um bom trabalho no trabalho.
Eu queria inspiração.
Eu queria para mim.
Eu queria inspirar.
Eu queria fazer bem feito - o que eu faço.
Eu queria ouvir boa música.
Eu queria ver bons filmes.
Eu queria ler bons livros.
(A propósito, tenho lido ótimos livros nesse começo de ano...).
Eu queria cozinhar bem.
Eu queria comer bem.
Eu queria aprender a falar coisa boas, na hora certa. As erradas, não queria mais falar.
Eu queria. Mas entre dizer e fazer há uma distância que...
Eu queria encurtar essa distância. 
Eu queria muito parar de querer, para fazer!